Anorexia Nervosa

O que é?

A Anorexia Nervosa é uma Perturbação do Comportamento Alimentar que, habitualmente, tem início durante a adolescência/início da idade adulta (a maior prevalência encontra-se nos 17 anos, sendo esta também a idade média de início), tendendo o seu aparecimento a ser gradualmente mais precoce.

Que tipos existem?

  • a) Tipo Restritivo – caracterizada pela ausência de episódios regulares de ingestão alimentar compulsiva e de comportamentos bulímicos ou purgativos (vómitos ou mistura de laxantes, enemas ou diuréticos);
  • b) Tipo Ingestão Compulsiva/Tipo Purgativo – caracterizada por episódios de ingestão compulsiva e comportamentos bulímicos ou purgativos.

 

Quais os sinais e sintomas?

O diagnóstico da Anorexia Nervosa abrange 3 características principais:

  • a) Recusa voluntária e intencional em manter um peso corporal saudável para a idade e altura;
  • b) Medo intenso e contínuo de aumentar de peso;
  • c) Autoimagem corporal distorcida.

 

1) Comportamentais e cognitivos:

Ao nível do comportamento alimentar:

  • Manter uma dieta alimentar restrita (em termos calóricos) e deficitária (em termos de hidratos de carbono e gorduras), independentemente do nível de magreza;
  • Pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos em torno das características dos alimentos e da dieta alimentar (e.g. pesquisa contínua de novas dietas alimentares, recusa em comer em espaços públicos, medir rigorosa e persistentemente as porções de alimentos a ingerir);
  • Fingir que se alimenta ou mentir sobre o seu comportamento alimentar ao nível da autoimagem corporal;
  • Sentir-se e descrever-se como gordo(a) independentemente de ter um peso muito abaixo do saudável para a idade e altura;
  • Pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos em torno da autoimagem corporal (e.g. pesar-se várias vezes por dia, preocupações persistentes sobre pequenas flutuações do peso corporal);
  • Crítica exacerbada sobre a autoimagem – perceção persistente de não se ser suficientemente magro/a.

 

2) Emocionais:

  • Baixa autoestima
  • Auto-culpabilização
  • Auto-criticismo

O diagnóstico da Anorexia Nervosa é complexo dada a sua proximidade de outras perturbações do comportamento alimentar. Por esse motivo, deverá sempre recorrer a um técnico especializado como um psicólogo para garantir que seja feito um diagnóstico clínico completo e fiável.

Quais as possíveis causas e fatores de risco?

A Anorexia Nervosa é uma doença com etiologia multifatorial, estando na sua base variáveis bio-fisiológicos, psicológicos, intrafamiliares, ambientais e socioculturais. Estes fatores não são determinantes da patologia mas assumem um papel de relevo no curso daquela, constituindo-se como fatores preditivos da perturbação alimentar na adolescência.

 

Quem é mais afetado?

Adolescentes ou jovens adultas do sexo feminino, caucasianas, a residirem em zonas urbanas e pertencentes a estratos socioeconómicos médios ou médio-altos.

A prevalência da anorexia nervosa tem sofrido um aumento gradual, nas últimas décadas, em vários países, assumindo particular difusão nas sociedades ocidentais, nas quais o paradigma da beleza corporal está comummente alocado a elevados índices de magreza. Verifica-se também um aumento da prevalência nas sociedades não ocidentais, que tende a acompanhar o desenvolvimento destas.

Estima-se que atualmente sejam diagnosticados anualmente cerca de 2.500 novos casos a nível mundial, sendo a prevalência internacional de 0,5 a 1%. Em Portugal, a prevalência situa-se entre os 0,3 e os 0,6%, sendo que mais de 90% dos casos é diagnosticado em mulheres. No domínio genético, estima-se que 6 a 10% dos familiares (em particular os de 1º grau) do sexo feminino de pessoas com Anorexia Nervosa possuam também esta doença, e que, em comparação com os gémeos dizigóticos, os gémeos monozigóticos têm uma taxa de concordância de cerca de 55%.

Uma intervenção precoce, aquando do início sintomatológico, é o fator protetor mais preditivo de um risco minorado de morte.

 

Fatores psicológicos:

  • a) Baixa autoestima (associada a uma elevada sensibilidade interpessoal com repercussões sobre um auto-criticismo e auto-culpabilização repetidos) e elevado perfeccionismo, surgindo a restrição alimentar como uma tentativa de repor a perceção de autocontrolo.

Fatores ambientais (acontecimentos de vida):

  • a) Separação/Divórcio do casal parental;
  • b) Conflitos ao nível das relações amorosas/de intimidade;
  • c) Abuso físico e/ou sexual (nestes casos a imagem fragilizada e pouco atraente emerge como um evitamento de abusos antecipados);
  • d) Mudanças relevantes como sendo a saída de casa e/ou a entrada na Universidade.

 

Consequências psicológicas habituais

Cerca de 85% dos pacientes com anorexia sofrem de Perturbação Depressiva, havendo uma maior probabilidade para o desenvolvimento desta psicopatologia aquando da existência de uma história de abuso sexual, psicológico ou físico na infância.

As perturbações da ansiedade surgem também comummente com a anorexia.

 

Consequências fisiológicas habituais

Consequências fisiológicas habituais

 

Índice de mortalidade

A anorexia nervosa tem o índice de mortalidade mais elevado de todas as psicopatologias, situando-se entre os 5 e os 18%. Na maioria dos casos, a causa de óbito é o suicídio, as alterações hidroelectrolíticas ou o estado de inanição (do qual derivam infeções frequentes e repetidas).

 

Como pode ajudar a Psicoterapia?

A Anorexia Nervosa implica, comummente, uma intervenção multidisciplinar – Psicólogo, Psiquiatra e Nutricionista. Paralelamente, a família e os amigos têm um papel fundamental na evolução da patologia, sendo importante o seu envolvimento, de forma ativa, pelos técnicos, no processo de intervenção.

Em Psicoterapia, é realizado primeiramente uma avaliação, por forma a fazer um diagnóstico diferencial. Esta informação permite ao psicólogo desenvolver um tratamento personalizado, cujo curso será também determinado por singularidades do paciente, como sendo a sua história familiar e perfil de personalidade.

De modo geral, o objetivo é inibir os comportamentos restritivos e/ou purgativos através de psicoeducação, modificação de falsas crenças e respostas emocionais desadaptavas e regulação do humor, promovendo-se a estabilização psicoemocional do paciente e as suas competências ao nível da regulação dos impulsos.

 

Livros e artigos recomendados

Bryant-Waugh, R. (2002). Doenças do Comportamento Alimentar - Um Guia para os Pais. Editorial Presença: Lisboa.

Carmo, I. (1994). A vida por um Fio – A Anorexia Nervosa. Relógio d’Água: Lisboa.

Carmo, I. (2003). Porque não consigo parar de comer?. Dom Quixote: Lisboa.

Dixe, M. A. (2007). Prevalência das doenças do comportamento alimentar. Análise Psicológica, 4 (XXV).

Graves, Bonnie B. (2000). Anorexia. Capstone Press: Minnesota.

Leal, I. & Nodin, N. (2005). Representações paternas na anorexia nervosa. Análise Psicológica, 2 (XXIII).

Nodin, N. (1999). A depressão nas perturbações da alimentação. Análise Psicológica, 4 (XVII). Sampaio, D. (1993). Vozes e Ruídos, Diálogos com Adolescentes. Editorial Caminho: Lisboa.

 

http://www.anad.org/ [em inglês]
Página da National Association of Anorexia Nervosa and associated Disorders

http://www.mirror-mirror.org/
Página da Mirror Mirror Eating Disorders

http://www.nationaleatingdisorders.org/ [em inglês]
Página da National Eating Disorders [em inglês]

 

Protocolos Académicos Psinove

Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
Associação Nacional de Estudantes de Psicologia
Instituto Universitário Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida
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