O que é?
A Perturbação da Ingestão Alimentar Compulsiva ou Binge Eating é das perturbações alimentares a que apresenta a maior prevalência na população geral. Este distúrbio alimentar é caracterizado por episódios de ingestão de uma quantidade de comida que é definitivamente maior do que a maioria das pessoas comeria, no mesmo período de tempo e sob as mesmas condições. Adicionalmente, existe a sensação de falta de controlo ao longo do episódio de ingestão compulsiva.
Estes episódios tendem a ser desencadeados por alterações de humor, tensões emocionais, problemas relacionais ou do dia-a-dia, e que têm como função a estabilização emocional mas, contrariamente à Bulimia Nervosa, as pessoas com esta perturbação não utilizam métodos de compensação (vómito, abuso de laxantes ou diuréticos, enemas, jejum ou o exercício físico excessivo) nem exibem regras rígidas de dieta. Após estes episódios (que ocorrem, em média, pelo menos 1 vez por semana durante 3 meses), existe tendência a instalarem-se sentimentos de culpa, ineficácia, desgosto e preocupações com os efeitos da ingestão sobre o peso e a imagem corporal.
Outra característica desta perturbação é a ingestão mais rápida que o normal, sem ser acompanhada da sensação física de fome, sozinho/a (longe de familiares ou amigos) até se sentir desconfortavelmente cheio/a.
A gravidade desta perturbação vai de leve (1 a 3 vezes por semana) a extrema (14 ou mais episódios por semana).
Quais os principais sinais e sintomas?
1) Comportamentais e cognitivos
- - Incapacidade de parar de comer ou controlar o que se está a comer;
- - Ingestão rápida de grandes quantidades de comida;
- - Ingestão alimentar mesmo quando saciado/a;
- - Tendência para esconder ou armazenar comida para ser ingerida mais tarde;
- - Comer normalmente à frente de outras pessoas mas compulsivamente quando sozinho/a;
- - Pensamentos frequentes sobre comida;
- - Comer de forma contínua e desregulada durante o dia, sem refeições planeadas.
2) Emocionais
- - Ansiedade ou tensão que só atenuam através da ingestão de comida;
- - Embaraço relacionado com a quantidade de comida consumida;
- - Sentimento de alienação durante os episódios de ingestão compulsiva;
- - Aparecimento de sentimentos de culpa, nojo e tristeza intensos depois da compulsão alimentar;
- - Desespero por controlar o peso e os hábitos alimentares;
- - Preenchimento de vazio através de alimentos calóricos;
- - Baixa satisfação nas relações e sensações de rejeição, crítica ou abandono.
3) Consequências Físicas
- - Aumento de peso ou obesidade;
- - Colesterol elevado;
- - Pressão arterial elevada;
- - Problemas respiratórios;
- - Problemas renais;
- - Problemas ósseos;
- - Artrites;
- - Problemas de pele;
- - Menstruação irregular.
Quem é mais afectado?
De acordo com Morins, Fonseca, Mendes, Ribeiro, Silva e Cruz (2006), o Binge Eating apresenta uma elevada prevalência não só entre os pacientes com perturbações do comportamento alimentar (30%), mas também na população geral (4,6%). Segundo os mesmos autores, esta perturbação pode apresentar uma certa variabilidade cultural e afecta, geralmente, pessoas que se submeteram a dietas restritivas para perder peso e sofreram recaídas.
Como pode ajudar a Psicoterapia?
O acompanhamento psicológico individual, conjugal, familiar ou em grupo, é fundamental, sendo a perturbação alimentar que apresenta melhor prognóstico. Alguns estudos têm vindo a demonstrar que a remissão completa é mais elevada do que na Bulimia Nervosa e Anorexia Nervosa (APA, 2013).
Através da Psicoterapia, é possível ajudar a pessoa a conhecer alguns pensamentos irrealistas que podem levar à compulsão alimentar, aumentar a consciência e controlo na forma como utiliza a comida para lidar com as emoções e compreender a função da ingestão alimentar compulsiva.
Pode-se trabalhar a identificação das situações que originam os episódios (os gatilhos) e a aquisição de ferramentas para os diminuir ou parar. Utilizam-se frequentemente técnicas de relaxamento e de auto-regulação emocional, com utilização do Mindfulness, EMDR, Focagem entre outras.
As relações familiares, amorosas e com pares são uma dimensão importante no contexto desta perturbação, podendo trabalhar-se competências ao nível da comunicação e estabelecimento de limites (como dizer “não” de forma adequada, fazer pedidos e expressar opiniões e necessidades), promovendo relações mais saudáveis e mutuamente gratificantes.
Referências bibliográficas
American Psychiatric Association (APA) (2013). DSM – V: Diagnostic and Satistical Manual of Mental Disorders (5th ed.). Washington: New School Library.
Morins M., Fonseca S., Mendes A., Ribeiro J., Silva L. & Cruz M. (2006). “Binge Eating” – A propósito de um Caso Clínico. Revista Comportamento Alimentar, Vol 3, nº9, pp: 9-12.