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Depressão

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

Depressão

Os últimos raios de sol encerram mais um dia de tortura. É pouco depois desta altura que consigo mover-me do sofá, onde passei o dia estendido. Na verdade, fingi para mim próprio que passei o dia a dormir mas isso até teria sido bom. Fiquei preso no limbo entre o sono e o despertar, o sítio de onde não conseguimos sair e onde todos os pesadelos do mundo nos podem atingir.

Tive tempo para reviver, dissecar mesmo, cada momento do dia de ontem. Arrastei-me para o trabalho e fiquei sentado na minha secretaria, a olhar para um monitor agressivo, durante 8 horas. Sim, 8 horas. Não me levantei para ir almoçar, beber café nem mesmo ir à casa de banho. Tinha todos os olhos pousados em mim, todo um conjunto de pessoas a testemunhar a minha incapacidade, pois não consegui produzir uma linha sequer. O meu cérebro, congelado, parece não conseguir perceber grande parte do que se passava ao redor. De tempo a tempos o meu coração disparava, galopante, provocando-me uma angustia que me absorvia por completo, para logo parar e me deixar, extenuado e confuso, de novo no meio do nada.

Os ruídos do escritório irritavam-me de forma intensa. O toque do telefone, os colegas a tossir, os passos das pessoas transtornavam-me. Se, de tempos a tempos, se ouvia um riso ou gargalhada, acometia-me uma dor física inexplicável. Doía-me ouvir.

A caminho de casa, sozinho no carro, apeteceu-me gritar mas não tive força. Apeteceu-me chorar mas logo as lágrimas secaram, evaporadas no deserto que me preenche. Parei o carro, antes de chegar a casa, só para não chegar. O futuro pareceu-me demasiado longo, cabendo em cada hora toda a vida que tenho dentro de mim. O coração a descompassar da vida novamente, a ansiedade e a angustia misturadas num mesmo saco.

Quando cheguei a casa já passava largamente da hora de jantar mas nem sequer conseguia perceber nitidamente se tinha fome ou não. No frigorífico apenas comida estragada, restos acumulados de dias seguidos de comida pronta a comer. No armário, um pacote de batata frita XXL chamou-me a atenção e, mesmo sem pensar, agarrei-o para o levar até ao sofá onde o abri e comi até ao fim, sem pausa ou capacidade para pensar. No final, a agonia. Lancei o pacote para o chão e deitei-me. Um desconforto sem fim invadiu-me: a luz a ferir-me, o silêncio a gritar. Apaguei a luz e liguei a televisão num volume muito baixo. Puxei a manta e tapei-me tentando esquecer-me que existia. Amanhã é sábado, é só preciso deixar-me ficar. Esperar que a paz me atinja, como uma golpe de sorte.

De repente, a campainha. Resisti a levantar-me mas quem quer que fosse estava decidido a fazer-se notar. Ao fim de 5 minutos, resolvi silenciosamente ir espreitar pelo óculo. Assim que o fiz voltei ao sofá, tapando-me novamente com a manta, até à cabeça. Na porta, o meu melhor amigo, o Zé. Tem-me ligado insistentemente mas não consigo atender. Acho que não conseguirei articular palavra se o fizer. Mais 5 minutos e a campainha deixou de tocar.

Ele também, há-de desistir.


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