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'Perturbação de Acumulação': Um problema “acumulado” na sociedade

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

'Perturbação de Acumulação': Um problema “acumulado” na sociedade

Considerada como diagnóstico independente pela “American Psychiatric Association” em 2013, a 'Perturbação de Acumulação' é uma situação clínica que merece a nossa atenção pelo sofrimento causado nas pessoas que sofrem da mesma (e respetivas famílias).

Por tratar-se de uma situação que acontece “dentro de quatro paredes”, acaba por ser uma patologia “oculta”, mas que merece cada vez mais investigação para desenvolver formas de intervenção, tendo em conta que acaba por ser um desafio de saúde mental e saúde pública.

Este texto procura compreender melhor esta situação, as suas possíveis causas, implicações e caminhos de acção/intervenção.

A 'Perturbação de Acumulação' caracteriza-se pela aquisição (excessiva) de objetos desnecessários, desorganização e pela dificuldade persistente (com sofrimento associado) em desfazer-se ou descartar-se dos mesmos (independentemente do seu valor real). Pode comprometer a habitabilidade (obstrução, entulhamento), a funcionalidade profissional e social (isolamento) do próprio paciente (e respetiva família), pelo sofrimento associado ao descarte das coisas/objetos. Por outro lado, tanta acumulação pode acarretar também outros perigos (quedas, acidentes, incêndios) particularmente nos pacientes mais velhos e também problemas de insalubridade (lixo acumulado e falta de limpeza).

Os itens acumulados mais frequentemente são objetos e animais. Estudos confirmam que a 'Perturbação de Acumulação' parece ser uma perturbação de curso crónico e progressivo, comummente associada a outras situações clínicas e em população mais idosa. Claro que convém distinguir “acumulação” de “coleccionismo”. Este último é ordenado e metódico e preenche um propósito/objetivo.

Como referido, a 'Perturbação de Acumulação' está associada a comorbilidades psiquiátricas, incluindo taxas elevadas de 'Depressão', 'Ansiedade Generalizada', 'Fobia social', 'Perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA)', 'Perturbação de stresse pós-traumático' e 'Perturbação obsessiva-compulsiva (POC)'.

Em relação à etiologia, esta é desconhecida porém existem algumas teorias que apontam para factores genéticos e/ou acontecimentos de vida traumáticos. Além disso, também existem estudos das neurociências que têm mostrado disfuncionalidades na capacidade de conceber, planear e executar tarefas, que resultam frequentemente em dificuldades na atenção, organização e tomada de decisão.

Os indivíduos com 'Perturbação de Acumulação' relatam com frequência a existência de eventos de vida traumáticos e alguns estudos sugerem que certos tipos de eventos (traumáticos) têm associação com a perturbação de acumulação. Por exemplo, os traumas interpessoais (como violência doméstica, perda acidental ou trágica de entes queridos ou negligência na infância) são os tipos mais relatados entre os pacientes com 'Perturbação de Acumulação'. Os autores relataram, também, que a ocorrência de 'Perturbação de Acumulação' está igualmente relacionada à intensidade do trauma, particularmente abuso físico/sexual.

Segundo os investigadores, a experiência de um trauma interpessoal pode resultar num apego emocional forte a pertences que passem a sensação de segurança/conforto aos indivíduos. Alguns estudos apontam que essa pode ser uma razão pela qual os pacientes com 'Perturbação de Acumulação' têm tanta dificuldade em separar-se dos seus bens e apresentam tendência à aquisição excessiva.

Visto que pedir ajuda pode ser dificultado pelo sofrimento, vergonha, isolamento ou a falta de crítica ou insight pobre, normalmente são os familiares ou entidades sociais que pedem ajuda. A avaliação passa pela entrevista, observação em contexto domiciliário e recolha de informação com a colaboração dos familiares.

Apesar de ser uma condição delicada e difícil de detetar, quando existe um grau de insight bom ou razoável, existem intervenções psicofarmacológicas e psicoterapêuticas (baseadas na abordagem cognitivo-comportamental), sempre em contexto de intervenção multidisciplinar (e coordenada), que podem gerar bons resultados.

Resumindo, a 'Perturbação de Acumulação' é uma perturbação mental grave de curso crónico e progressivo, ainda pouco estudada, com prevalência de 2% a 6% na população em geral, podendo ser mais elevada na população idosa. Foi incluída no DSM-5 (2013) como entidade nosológica independente. Acarreta custos importantes para a sociedade devido aos riscos de saúde (mental e pública) e à segurança dos indivíduos, especialmente a população mais idosa. Estudos indicam a participação de fatores genéticos, familiares, cognitivos e de experiências de eventos traumáticos na etiologia da 'Perturbação de Acumulação'.

Caso conheça alguém que esteja em situação de sofrimento associada a esta condição procure ajuda profissional.


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