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A aceitação como caminho de transformação

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

A aceitação como caminho de transformação

Já deve ter com certeza ouvido muitas vezes falar sobre a aceitação como forma de lidar melhor (ou de forma menos dolorosa) com uma determinada experiência. A questão é que o processo de aceitação nem sempre é fácil ou rápido, especialmente se o tema nos toca emocionalmente de forma profunda e dolorosa. A aceitação pode trazer muitos desafios, levar-nos a mergulhos internos profundos e a confrontos com lados para os quais podemos não querer olhar.

Acredito que uma das formas de vivermos com maior bem-estar é, como diz Lise Bourbeau “vivermos experiências até as aceitarmos e amarmo-nos através delas” e este processo de amor próprio é também um enorme desafio. É fácil aceitar um lado meu de que gosto, mais difícil é aceitar um lado meu que não gosto, percebendo que sou ambas as coisas, que nenhuma delas me define na totalidade e que posso fazer escolhas.

Aceitar uma experiência não significa concordar com ela ou gostar do que aconteceu na sua sequência. Aceitar uma experiência trata-se de entrar no processo de a olhar sem reagir de forma impulsiva (por exemplo, punindo-nos ou punindo outros ao nosso redor) e tentar compreender porque é que aquilo nos terá acontecido. Qual a minha responsabilidade no que aconteceu? Claro que me poderão dizer “Então, mas o outro não tem também responsabilidade?”. Poderá ter sim, mas na mudança do comportamento dos outros, nós temos muito pouco a fazer, se o outro não quiser mudar. A minha actuação está no meu espaço, no respeito pelas minhas emoções, pelas minhas escolhas, pelas minhas acções. E se eu me colocar constantemente no papel de vítima, não estou a olhar para a minha responsabilidade no que acontece na minha vida.

Vou dar-lhe um exemplo que o/a pode ajudar a compreender: se eu não comunico de forma clara as minhas necessidades ou emoções (responsabilidade minha), mostrando ao outro que o comportamento X ou Y me incomoda ou é algo com o qual eu não concordo, o outro pode agir sem ter em conta as minhas necessidades ou emoções. Se me coloco na situação como sendo apenas vítima da injustiça do comportamento do outro (que, por exemplo, sinto como agressivo) e não percebo que nunca me dei espaço ou permissão para dizer que esse comportamento me causa desconforto, posso ter contribuído para a minha própria dor.

Percebemos que temos (ou podemos ter) responsabilidade na nossa dor não é desresponsabilizar o outro mas sim entender que ambos podemos ter comportamentos que precisamos transformar, desde que queiramos fazê-lo. É não nos colocarmos nem no lugar da vítima nem no lugar do carrasco, é fazer um zoom out à situação e olhá-la com distanciamento e esse, é o início da aceitação.

Ganhar consciência que tudo o que eu decido ou não decido, faço ou não faço, digo ou não digo tem consequências é um ponto importante para me compreender a mim (e por consequência compreender o outro) e para poder aceitar a experiência como resultado de escolhas que eu fiz.

Quando me apercebo que uma experiência tem consequências nocivas para mim, em vez de censurar, criticar, julgar ou querer mal ao outro, experimente perceber em que medida contribuiu para ela (ainda que sem querer). Experimente olhar para ela como uma aprendizagem de algo que precisava de viver para retirar alguma lição para si, tente entender e aceitar essa lição.

E se a experiência dolorosa voltar a acontecer, devemos conceder-nos o direito de repetir diversas vezes o mesmo erro ou a mesma experiência antes de integrarmos a aprendizagem na sua totalidade. As transformações profundas são processos, não são aprendizagens que se façam de uma só vez, são movimentos contínuos que trazem à tona muitas partes de nós, umas que gostamos mais e outras menos e onde todas devem ocupar o seu lugar na nossa consciência.


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