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As trincheiras cá em casa

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

As trincheiras cá em casa

A pandemia do novo coronavírus trouxe-nos uma nova realidade com que apenas havíamos contactado nos livros, no cinema ou nos videojogos.

Subitamente tudo fechou, as ruas ficaram vazias, o medo instalou-se, refugiámo-nos em casa, procurando protegermo-nos, a nós e aos que nos são próximos, pertencendo ou não aos considerados grupos de risco. A vida, tal como a conhecíamos, ficava agora em suspenso, levantando todo o tipo de questões, mais ou menos angustiantes: como vou poder trabalhar? O meu emprego está em risco? Como vai ser a escola dos miúdos? Como posso apoiar os meus pais ou os meus avós? Como abasteço a casa com as provisões básicas?...

E fomo-nos adaptando. O Estado procurou adaptar-se emanando diretrizes e criando apoios (financeiros e não só). As empresas focaram-se no teletrabalho. Para muitos de nós, o online, outrora uma ferramenta de trabalho ou um meio de diversão, passou a ser a base da “vida” sobre a qual tudo passou a assentar: plataformas profissionais, académicas, de socialização ou de fornecimento de bens e serviços.

Foi então que o “fenómeno” começou. Como encaixar tudo isto entre quatro paredes!? Subitamente, o espaço de refúgio tornou-se apertado. O teletrabalho misturou-se com o apoio académico, que se imiscuiu na educação e na partilha, que incluiu as tarefas domésticas… Tudo isto e mais alguma coisa, enovelado em proximidade e medo pelo impacto da pandemia e as suas naturais repercussões. Acima de tudo perdeu-se espaço… Espaço mental, espaço para estar só, encerrados em nós. E a “guerra” que se passava lá fora, passou para dentro de casa. Faz lembrar o saudoso Raul Solnado: “Alô? É da guerra?”. E, de facto, às vezes parece. Os espaços profissional, familiar e pessoal, fundiram-se, deixando de haver fronteiras “físicas” entre os problemas característicos do quotidiano de cada um, mais ou menos delirante. Tudo se misturou. É a vida nas trincheiras! Os perigos espreitam e a tensão é constante, mas a vida continua. Não há grande espaço para relaxar, “limpar a cabeça”, retemperar forças e voltar à ação. Ninguém vai de licença! E no meio de tudo isto surgem problemas de trabalho, perdem-se empregos e a subsistência é precária. Os miúdos precisam de acompanhamento e atenção, “inventam” atividades que são tudo menos calmas; estão saturados, tal como nós. Fazem asneiras, há insubordinações. Tenta-se manter as rotinas, mas as regras afrouxam. A situação é especial.

Vivemos os problemas do quotidiano dos nossos parceiros. Vivemos os problemas do quotidiano enquanto parceiros. Sobra pouco espaço.

Perdem-se entes queridos… E pouco ou nada podemos fazer. Não há tempo para despedidas, nem hipóteses de um abraço. As cerimónias fúnebres passam rapidamente, a dor não. Há que continuar, a vida assim o exige! Mas o saldo é elevado: ansiedade, angústias, zangas e tristezas marcam-nos e retiram-nos alguma racionalidade. Perdemos a paciência e podemos reagir de forma excessivamente emocional.

Mas irá acabar por passar e cabe-nos, a nós, decidir o que queremos fazer no futuro. Estamos vivos e temos esse poder.

Os laços vincam-se, fortalecem-se! É algo que vamos levar para as nossas vidas e que nos enriquece. É uma tatuagem que diz “Covid 2020”. É um ensinamento para o futuro e uma partilha no presente. É também a possibilidade de valorizar aquilo que sempre tivemos como garantido: saúde, emprego, aqueles que amamos, liberdade... Entre tantas outras coisas que nos são inconscientemente essenciais. Das 23.000 vezes que respirou num dia, quantas foram conscientes?

Valorize-se o sacrifício! O esforço e a dedicação de quem, por todos nós, se manteve ao serviço: profissionais de saúde, forças de segurança, trabalhadores da higiene urbana…

Recordem-se as coisas boas! Os desenhos “Vamos ficar todos bem!”, as visitas ao campo para esticar as pernas em isolamento social, as palmas à janela, o hino, as caixas sociais e as ações de ajuda a quem mais precisou, os acampamentos na sala de estar, as camas juntas, as aulas de ginástica em casa, os serões a jogar Uno e Monopólio, o voltar a viver “lá fora”, as reconciliações, as boas notícias: Parabéns, é um menino!…

Recorde-se: há muitos anos, quando tinha a tua idade, vivemos uma pandemia…

Como diria Raúl Solnado: “Alô! É da guerra? Daqui é o inimigo. Encerra já a tua guerra! Manda-a já fechar!”.


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