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Do eu para o nós, no momento presente

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

Do eu para o nós, no momento presente

Seja gentil quando for possível... Sempre é possível.
Dalai Lama

Vivemos mais um momento sensível na Humanidade. Um tremendo desafio que põe em causa tanta coisa no nosso dia-a-dia e nesta nossa forma de viver. O COVID-19 obriga-nos a alterar as nossas rotinas, a forma como nos relacionamos com o mundo e com os outros.

O momento presente ganha assim uma importância ainda maior do que já habitualmente tem. Do meu conhecimento, existem várias possíveis explicações para a sua origem (passado) e certas previsões matemáticas em relação ao desenvolvimento do vírus (futuro). Muito pouco passa, assim, pelo nosso controlo ao não temos certezas sobre o referido passado nem sobre o futuro. O melhor que podemos, e devemos, fazer é olhar para o momento presente com um olhar profundo e detalhado. E Humano. Chega agora a altura de cuidarmos de um dos recursos mais valiosos que temos e do qual nos esquecemos tantas vezes (tantas vezes, só nos lembramos dele quando passou): o Tempo. Talvez possamos usá-lo de formas mais saudáveis psicologicamente, na beleza das coisas simples como um sorriso, um "bom dia!", uma entusiástica salva de palmas às 22h00 à sua janela ou o perguntar a um desconhecido se precisa de ajuda. A beleza da Vida está na sua simplicidade e não há distância física que a possa quebrar.

Tantas e tantas pessoas vivem agora impedidas de trabalhar, de sair de casa, de visitar familiares e amigos, de ter sustento financeiro, de inúmeras coisas e aspetos essenciais. De dar até um simples abraço. Lidando com o drama de estarem infetadas, de conhecer quem esteja e na tentativa esforçada de circunscrever e prevenir contágios no seio deste isolamento que devemos seguir. Estarmos mais longe fisicamente não quer dizer que estejamos afastados. Muito pelo contrário. As dificuldades extremas que afetam o Mundo, neste momento, estão a provocar uma onda de solidariedade, de união, de entreajuda, de esperança. Sim porque o Mundo em que vivemos tem-se tornado um lugar mais solitário onde a tendência para o eu tem ganho uma preponderância alarmante. Ninguém precisa de ter centenas e centenas de rolos de papel higiénico em casa. Ou dezenas e dezenas de frascos de álcool. Ou idas impulsivas e sem severidade sintomática aos hospitais, dificultando o acesso a pessoas que estejam em reais dificuldades. Esta acumulação de recursos em alguns contribui para que muitos outros possam não ter acesso a formas de prevenir e controlar o vírus e toda a sua ação nefasta. Pondo em causa a sua saúde e a de tantas pessoas.

Esta cultura do eu enfrenta uma batalha curiosa com o Nós - que se dissemina segundo após segundo. Falo de um movimento de partilha, de compaixão, de compreensão que nos deixa mais acompanhados, mais prevenidos, mais unidos. Nesta sequência, estamos tão agradecidos aos médicos e enfermeiros pela dedicação, espírito de sacrifício e defesa da vida humana - mesmo debatendo-se com uma falta de recursos amplamente conhecida. Também nós psicólogos temos um papel relevante na gestão psicológica desta pandemia, agora e no futuro. E estamos cá para isso!

Além de termos de nos higienizar fisicamente, devemos fazê-lo também psicologicamente. E por isso, deixo-lhe aqui algumas sugestões:
1. Mantenha-se informado sobre as diretrizes de saúde e desenvolvimento da pandemia (de fontes credíveis) com limites e regras. Por exemplo, informe-se no início do dia e no seu final ou noutros momentos específicos – o importante é não estar permanentemente ligado a este tema por muito preocupado/a que esteja, libertando o restante tempo para aproveitar o momento presente, sempre com os cuidados necessários.

2. Medite. Passamos demasiado tempo da nossa vida a responder a estímulos externos. Ficamos viciados em "fazer" e "mostrar", com todas as consequências psicológicas negativas que daí resultam. Por outro, a meditação permite contactar com o nosso mundo interno, conectando-nos mais plenamente aos outros. Medite individualmente e com os seus familiares e amigos que estejam na sua casa. Desta forma, está a gerir a ansiedade que poderá sentir nesta fase da pandemia e aumentar os seus recursos emocionais.

3. Mais do que se focar naquilo que não pode fazer, procure focar-se no que pode fazer. Exercite a sua liberdade possível. Sim porque apesar do seu dia-a-dia estar seriamente limitado, a sua liberdade é bem maior do que poderá pensar. Falo de liberdade de estar no momento presente. De estar consigo mesmo/a, de estar com quem ama, de fazer escolhas saudáveis dentro das restrições presentes.

4. Tenha atenção aos cuidados de higiene amplamente divulgados tanto em si como nas pessoas que o rodeiam assim como a presença de sintomas. Monitorize os sinais do seu corpo sem depender dessa monitorização (e assim prevenir a ansiedade). Proteja-se, proteja e permita-se a ser protegido. E partilhe recursos com quem não os tem, não tem possibilidade de os ter ou que está sozinho/a.

5. Sempre que possível e com as devidas precauções e respeitando as diretrizes vigentes, aproveite os espaços verdes e que envolvem o contacto com a Natureza. Usufrua da companhia dos seus animais de estimação. Eles estão sempre consigo, sem condições.

6. Cuide da sua alimentação, do seu sono, beba líquidos e mantenha bons hábitos de auto-cuidado, incluindo a toma rigorosa da medicação prescrita. A mente e o corpo vivem juntos e tudo o que podermos fazer por eles é bem válido, principalmente numa fase como esta que estamos a atravessar.

7. Defina rotinas, atividades, objetivos e dê uma estrutura ao seu tempo. Tanto para si como para as crianças e adultos. A vida mudou tanto em tão pouco tempo que precisamos de uma parte da vida que esteja estável, dando-nos segurança, previsibilidade e conforto.

8. Envolva-se em atividades artísticas, por si ou com a sua família. A arte, seja ela qual for, tem um potencial tremendo na nossa saúde mental. Além disso, permite-lhe aprender, explorar e potenciar o seu conhecimento e prática.

9. Organize o seu espaço físico, fazendo aquelas atividades que estão adiadas há muito. Torne-o o seu espaço seguro, envolvendo a sua família e amigos. Dessa forma, todos colaboram para um objetivo comum.

10. Faça um diário. Lá pode colocar o essencial do seu dia e anotando as suas sensações, emoções, pensamentos e ações num parágrafo diário. Pode também enfatizar as dificuldades e possíveis soluções, dúvidas mas também conquistas do seu dia. Dessa forma, está a contribuir para libertar alguma da tensão que sinta e criando uma narrativa que lhe permita ver-se a si mesmo/a e aos outros de forma adaptada ao contexto que vivemos.

11. Peça ajuda. Como vimos em cima, estamos longe fisicamente mas, cada vez, mais perto. Utilize o seu telemóvel, a internet, as redes sociais, os websites, as aplicações e todos os recursos online e tecnológicos que atualmente existem. Se for difícil ou não estiver à vontade, peça também ajuda para que aprenda. Ser-se realmente forte é aceitar-se a nossa fragilidade. Que é a de todos nós.

12. Leia, ouça música, veja televisão mas procure “não se anestesiar”. Por exemplo, muitas pessoas vêem muitas séries e filmes para não contactarem com as suas preocupações. O que esse processo faz é dar uma falsa sensação de bem-estar, alimentando o aparecimento de processos causadores de dor psicológica (como sintomatologia ansiosa e/ou depressiva). Existe uma grande diferença entre saborear e consumir.

13. Faça exercício, mantendo-o como uma rotina diária. Fazer caminhadas em casa ou na área envolvente, corrida e planos de treino que lhe permitam exercitar-se sem necessitar de ir ao ginásio.

14. Procure estar próximo/a das pessoas e, também, de si mesmo/a. Reserve momentos para ambos em cada dia e organize o seu espaço físico e atividades nesse sentido.

15. Este isolamento social e estado de alerta não serão para sempre. Também eles irão passar. Desenvolvermos a nossa sensação de impermanência contribui positivamente para a nossa vida.

16. Peça ajuda profissional a um psicólogo especializado e que esteja preparado para lidar com o impacto psicológico desta pandemia (por exemplo, através de consultas online).

17. Treine o não fazer nada, incluindo as suas crianças, se as tiver. A ausência de estímulos também faz parte e é bem importante na manutenção da nossa saúde mental. Desconecte-se da tecnologia por diversos momentos. Pause, sinta o corpo e a mente. Aceite o que surge momento a momento. Enraíze-se.


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