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Do "ter de fazer" ao "querer fazer"

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

Do

Ao longo da vida, vamos criando metas que guiam a maior parte das nossas ações. Tendo em conta a diversidade de fatores extrínsecos e intrínsecos que influenciam o seu estabelecimento, perceber se o que fazemos é da ordem do obrigatório ou da ordem do querer pode não ser uma tarefa fácil.

A importância de estarmos em contacto com o que queremos fazer tem vindo a ser salientada por todos aqueles que refletem sobre a saúde mental e estudam os fatores que precipitam e mantêm as vulnerabilidades a este nível. Tanto as suas reflexões como estudos indicam que aprendizagens individuais e regimes sociais de cariz mais opressivo, que apelam à valorização e priorização dos deveres e obrigações, em prol de desejos e vontades, contribuem para estados mais depressivos e ansiosos.

Existem de facto diversas condicionantes que estão fora do nosso controlo e que nem sempre possibilitam pensar ou fazer o que queremos. Fatores como a subsistência, estatuto social, desejo de agradar, obrigação e medo influenciam bastante as nossas ações e aumentam a probabilidade de contemplarmos a vida como uma série de rotinas que temos de realizar. É quase impossível não encontrar motivações extrínsecas (assentes em algo fora de nós) em quase tudo a que nos propomos, mesmo naquilo que se liga a convicções pessoais ou interesses profundos. As motivações extrínsecas e intrínsecas não se excluem mutuamente, e assim, é importante deixar claro que o presente texto não pretende sugerir que deveríamos deixar, por exemplo, de procurar bens materiais ou aprovação de outros quando isso faz parte da nossa natureza.

No entanto, esta reflexão torna-se relevante quando o impulso para fazer a maior das atividades do dia-a-dia parece assentar numa primeira instância e de forma frequente no tenho de fazer. Parar e refletir sobre como tenho ocupado o tempo e quais as motivações para as atividades e tarefas em que me envolvo não deveria ser um luxo, principalmente se a consequência de não o fazer será uma menor perceção da distância a que me encontro de um caminho de realização, bem-estar e talvez de felicidade.

Num tempo em que o espaço casa e trabalho se fundem, o caos e incerteza se instalam com maior força ainda, parece-me mais importante pormo-nos em mais contacto com o que queremos fazer. A par com outros confinamentos externos e internos em que muitos já vivem, este que estamos a viver fruto da pandemia, primeiro nas nossas casas e de seguida na nossa forma de estar e socializar, tem-nos colocado ainda mais em contacto com o que à dimensão medo e obrigação diz respeito. Elevadas taxas de esforço, cansaço, apreensão e alguma desesperança são algumas das sensações que têm surgido tanto na minha prática clínica como no contacto com os que me rodeiam face a esta novidade que chegou às nossas vidas, à pressão para a adaptação e a todas as exigências que desta advêm.

Aproveitando a chegada das férias de muitos, de um período em que o contexto é alterado, em que se sai do piloto automático do dia-a-dia e se dá conta de mais quereres, abaixo ficam propostas de exercícios para este tempo que o podem ajudar a definir novas metas e comprometer-se com ações que se aproximam mais do que quer fazer. Tais propostas foram inspiradas pelo escritor e professor de psicologia em Harvard Tal Ben-Shahar, autor do livro “Aprenda a ser Feliz”.

  • Responda às questões: “Quantas vezes aplico o termo tenho de quando me refiro às atividades que faço?” e “Quanto do meu tempo é dedicado às atividades que tenho de fazer e quanto é investido no quero fazer?”
  • Reflita sobre o porquê de o tenho de fazer se tornar mais prioritário do que o quero fazer, assim como, sobre o que o impede de se apropriar do que quer.
  • Partindo do pressuposto que o que está a fazer pode conciliar o tenho e o quero fazer, explore se nas atividades que aparentemente são da ordem da obrigação (exemplo, trabalho), existem tarefas que se aproximam do que lhe interessa, do que quer estar a fazer.
  • Legitime-se sair do seu “eu obrigatório”. Se não estivermos em contacto com as atividades que quer fazer, o stress e ansiedade aumentam e a produtividade que apresentamos nos deveres e obrigações tende a diminuir.
  • Se possível, divida o seu tempo. Marque o período do dia e da semana em que está a fazer atividades em o que tenho de pesa mais e outro em que o que está a fazer corresponde mais ao seu querer – a existência de fins de semana e férias não é por acaso.
  • Defina novas metas, metas autoconcordantes. Estabeleça metas que assentem em convicções pessoais e interesses profundos, na vontade de exprimir uma parte de si e não da necessidade ser aprovado pelos outros. Experimente escrever o que realmente quer fazer em cada uma das áreas da vida, das relações interpessoais ao trabalho, tendo em mente o que está mais ao seu alcance e considerando o:
    • Longo prazo: defina objetivos concretos para um período de vida alargado, mas que simultaneamente sejam flexíveis e maleáveis às convocações do dia-a-dia, do aqui e agora e das contrariedades da vida. Estas podem ou não ser atingidas, servindo maioritariamente para guiar o caminho.
    • Curto-prazo: divida os objetivos de longo-prazo em vários objetivos realistas. Tratam-se de objetivos para um futuro próximo que são colocados ao serviço de metas mais longínquas.
    • Plano de ação: pense num conjunto de ações que o ajudem a concretizar os objetivos anteriores. Tendo metas que se ligam mais ao seu querer, as atividades que tem de fazer tornam-se mais toleráveis pois respondem a objetivos que traduzem as suas vontades.

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