Gosto de alguém com Perturbação de Personalidade Borderline... E agora? (Continuação)
Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.
O termo perturbação de personalidade denuncia a utilização de um padrão de comportamento inflexível, mesmo em situações em que este não contribui para uma adequada resolução da situação. Em grande parte das situações é possível perceber que este padrão poderá ter sido adaptativo noutra altura da vida da pessoa, mas já não o é, embora a pessoa continue a usar-se dele. Funciona como uma roupa velha, que já não serve, mas que queremos continuar a usar. Algumas vezes por acreditarmos que essa roupa nos ficava muito bem e na esperança de ainda conseguirmos o mesmo efeito.
Assim é, também, com este tipo de padrão comportamental. Escrevo comportamental no sentido lato porque, efectivamente, numa perturbação da personalidade, descobre-se um padrão que é comportamental na sua abrangência mas que se enraíza nas emoções, nos pensamentos, nas aprendizagens e nas relações estabelecidas.
Falando especificamente da Perturbação de Personalidade Borderline, considera-se que existem causas multifactoriais, com factores inatos, biológicos, que aumentam a vulnerabilidade para experienciar emoções de forma mais intensa. Não é infrequente pensar-se que a intensidade com que se sentem as emoções é uma questão de auto-controlo. No entanto, sabe-se por investigação científica que a intensidade e a qualidade das emoções sentidas não é apenas uma questão de escolha, de controlo. É Marsha Linehan, a fundadora da Terapia Comportamental Dialética – por sinal um dos tipos de tratamento indicado para a Perturbação de Personalidade Borderline – que nos deixa uma imagem muito elucidativa sobre este problema: “As pessoas com Perturbação de Personalidade Borderline são como pessoas com queimaduras de 3º grau em 90% do seu corpo. Com a falta de pele emocional, sentem dor ao menor toque ou movimento.”
Por outro lado, existem alguns factores ambientais bem identificados que poderão ser determinantes no desenvolvimento da Perturbação de Personalidade Borderline. Um ambiente invalidante é uma forte influência e tal ambiente poderá ser constituído de várias formas. Por exemplo, quando as principais figuras de vinculação não tomam em conta, de forma consistente, as necessidades da pessoa ou quando exercem uma crítica excessiva constante. Quando existe uma grande pressão para o sucesso e para o controlo. Quando o ambiente não permite a expressão de determinadas emoções, reprimindo-as (como a tristeza ou a zanga). Quando os pais estão demasiado ausentes ou desligados. Quando há abuso (físico, psicológico ou bullying...).
Existem algumas formas de ajudar as pessoas com Perturbação de Personalidade Borderline a sentirem-se mais adaptadas na sua vida. Desde a compreensão do problema pelas pessoas mais próximas, promovendo a regulação e o equilíbrio, passando por aquela que é a intervenção de primeira linha nestas situações – a psicoterapia, podendo mesmo ser necessário considerar o internamento, para contenção ambiental em situações de falta de controlo de impulsos nocivos ou desregulação emocional grave.
Algumas pessoas com Perturbação de Personalidade Borderline têm um óptimo funcionamento como pais ou amigos mas não conseguem manter um emprego. Outras apresentam problemas de abuso de substâncias mas funcionam bem nas outras áreas. É uma perturbação complexa e com muitas caras, com uma coisa comum: o imenso sofrimento que provoca aos que com ela convivem diariamente. Na primeira pessoa ou por proximidade.
Este texto não é um texto para ser lido isolado. A Psinove irá publicar, com regularidade, durante os próximos meses, alguns textos com informação fundamental para a melhor conhecimento e actuação nesta situação. Se está a ler-nos à procura de clarificação, esperamos que estes textos lhe sejam úteis.
