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Quando um amigo o procura, sabe o que não deve dizer?

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

Quando um amigo o procura, sabe o que não deve dizer?

São com certeza vários os momentos onde um amigo o procura, partilhando um problema ou uma dificuldade. Existem, no dia-a-dia, diversas situações inesperadas que nos marcam e magoam com o seu impacto, sendo normal procurarmos na nossa rede social de apoio, seja com amigos, família, parceiro ou parceira, quem nos oiça e apoie. Quem consiga estar ali para nós.

No entanto, muitas vezes, enquanto a sua prioridade é ajudar este amigo a ultrapassar a sua situação difícil, o seu amigo apenas quer partilhar o que o atormenta, desabafar o seu problema e as suas preocupações e procurar, em si, o apoio para aquela dor. Alguém que o oiça sem questões, só validação apoiante.

Na tendência ansiosa de terminar com o sofrimento do outro de quem gostamos e nos preocupamos, focamos a nossa abordagem no solucionar o problema. Isto irá impedir que o oiçamos, simplesmente. A percepção que passamos é a de não valorizar o seu sentimento e a sua dor do momento, tentando dispersar a mesma, desvalorizando-a. Mas, muitas são as situações onde o sofrimento produtivo da dor associada aos problemas é a solução para a sua resolução. É importante que a dor seja valorizada como resultado justificado da situação.

Neste sentido, porque ser pessoa é, também, sabermos estar com os outros em relação, saber ouvi-los e estar presentes, existem certas frases, certos clichés, que podem e devem ser evitados, no sentido de melhor ouvir quem lhe solicita apoio. São certas frases que, sendo evitadas, o tornam mais empático para com o outro. Alguns exemplos:

“Não fiques assim”

Quando algo acontece, os sentimentos e emoções provocados pela situação são resultado da nossa percepção da situação e do impacto desta em nós. Apesar da intenção ser a melhor, o que é certo é que, naquele momento, o seu amigo não consegue estar de outra forma. Se o magoa, certamente, se conseguisse, não ficaria assim. Esta frase simplifica algo que, não sendo sentido por nós, deve ter uma importância acrescida para o outro. Além disso, é preciso dar espaço ao outro para estar “assim” e sentir o que tiver de sentir.

“Tem calma”

Quando alguém, perto de nós, está muito agitado, com a sua ansiedade a funcionar a alta rotação, a tendência é alguém lhe dizer para ter calma. Como se fosse fácil ou como se fosse diferente porque o outro assim o quer. Sentir calma será o estado onde a ansiedade está controlada, sendo o nosso controlo sobre o ambiente exercido de forma equilibrada entre o que queremos que aconteça e o que está a acontecer, no sentido do que é melhor para nós. Quando este equilíbrio não acontece, a ansiedade dispara e tentar ter calma quando se está ansioso, por norma, provoca mais ansiedade pelo insucesso em acalmar-se. Deve, sim, transmitir a ideia de pensar no resultado da ansiedade e na sua lógica e não em contrariá-la. Experimente, por exemplo, oferecer a sua companhia para estes momentos de ansiedade, transformando-se num pilar estruturante da obtenção de calma.

“Há coisas piores”

Quando algo de mau ou difícil acontece, só o próprio o sente e, por isso, só o próprio sabe a vivência que tem dessa situação. Por muito que seja percebido pelo outro, o que sentimos e emocionalizamos é apenas nosso e nunca comparável entre pessoas ou situações. Quando a tentativa de lidar com estas situações é feita pela comparação com os outros ou com outros problemas, existe uma desvalorização do problema e do sentimento da pessoa. Para processar e resolver um problema, é preciso focar nele como sendo o maior e mais importante para si naquele momento, não o inferiorizando ou desvalorizando. Por não conseguirmos estar no papel dos outros a 100%, devemos fazer o esforço de valorizar a sua dor a 110%.

“O tempo cura tudo”

Além de “frase feita”, deve ser das maiores mentiras que contamos uns aos outros. O tempo cura tudo apenas e só quando a solução existe, pois será preciso, apenas, tempo para que esta surta efeito e ajude nas mudanças a realizar para resolver o problema. Sem solução, o tempo apenas anda e o problema avança com ele. É necessário que se actue e reaja nesse tempo, promovendo mudança nas dificuldades, procurando soluções. Estando simplesmente ali, com o outro, o tempo necessário começa a actuar, mas é este tempo, o do outro e não o do mundo.

O que quero transmitir com estes exemplos é que não existem respostas certas ou erradas no apoiar o outro. Todos fazemos o que podemos e sabemos para melhor ajudar e apoiar os nossos. No entanto, a base deste tipo de apoio deve ser a disponibilidade para estar e ouvir, ser empático e compreensivo, ouvindo sem dar soluções, ajudar a criar caminhos quando pedido. Perceber que aquele momento é do outro e nós só temos a oportunidade de ajudar. Será sobre nós noutro momento e não ali.


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