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A Perturbação Obsessivo-Compulsiva em Psicoterapia

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva em Psicoterapia

"A incerteza dos acontecimentos, sempre mais difícil de suportar do que o próprio acontecimento." - Jean Massillon

A perturbação obsessivo-compulsiva constitui-se como a 4ª perturbação psicológica com maior prevalência, afetando 1 em cada 40 adultos e apresentando 35% de probabilidade nas relações em primeiro grau.

O sofrimento que causa é tremendo, solitário e ainda pouco compreendido na nossa sociedade e tanto pode resultar de aspetos neurobiológicos (como o núcleo caudado não ser eficaz na transição entre pensamento e ação) como da história e contexto de vida (como mudanças, acidentes, conflitos e perdas precoces além de estilos parentais negligentes e/ou sem regras e limites) ou da combinação dos dois. Muitas pessoas que sofrem com ela sentem na pele o estigma que ainda existe em Portugal em relação às problemáticas da saúde mental

Em síntese, obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes, intrusivos e persistentes causando elevados níveis de ansiedade e dúvida. Este tipo de conteúdos não são meras preocupações exageradas com problemas da vida “real” e são de tal forma desconfortáveis que a pessoa tenta neutralizá-los, suprimindo-os ou realizando alguma ação ou pensamento. As compulsões são comportamentos repetitivos (como organizar, lavar, verificar) ou atos mentais (como rezar, contar ou repetir palavras em silêncio) e que a pessoa sente como obrigatórios em resposta a obsessões ou regras previas e rigidamente definidas. Estas pretendem reduzir ou evitar o sofrimento mas também uma situação temida que poderá acontecer caso não sejam realizados (sem ligação com fatos reais).


À medida que este ciclo se instala, a pessoa sente-se cada vez mais incapaz de se relacionar com as pessoas e com o mundo que a rodeia. Como se de uma prisão se tratasse.

As obsessões mais comuns são:


1) Contaminação

2) Dúvida permanente

3) Preocupações somáticas

4) Agressividade

5) Sexualidade

De igual modo, as compulsões mais comuns são:


1) Verificação

2) Lavagem

3) Contagem

4) Simetria e precisão

No entanto, não nos podemos esquecer do hoarding (acumulação), da tricotilomania (arrancar cabelos para reduzir a ansiedade), da cleptomania (tendência para a pessoa roubar) ou da piromania (prazer em provocar incêndios, queimar ou atear fogo) e onde o controlo de impulsos não está presente de forma adequada.

E quais os sinais de alerta?


1) Pensamentos intrusivos

2) Comportamentos “obrigatórios” sem razão aparente

3) Rituais

4) Dores de cabeça nas zonas orbitais

5) Insónias

6) Grande ativação fisiológica e ansiosa

7) Desconfiança e vinculação insegura

8) Dificuldade em estar no “aqui e agora”

9) Intolerância à incerteza

E como pode a Psicoterapia ajudar?

Sigo uma abordagem integrativa nos pacientes com perturbação obsessivo-compulsiva e que me leva adoptar diferentes modelos conforme as problemáticas e necessidades das pessoas, momento a momento. Assim, e para começar, a abordagem Cognitivo-comportamental apresenta resultados sustentados pela investigação e que está presente no processo psicoterapêutico através de:

1) Avaliação e psicoeducação do paciente e familiares

2) Inventário das obsessões e compulsões

3) Definição de Hierarquia de Exposição

4) Exposição e Prevenção de Resposta

5) Desafiar e corrigir pensamentos ligados à ansiedade

6) Prevenção da recaída

De igual modo, considero de grande utilidade o Modelo dos 4 Passos de base cognitivo-comportamental (também chamado de Brain Lock, criado pelo psiquiatra e especialista em neuroplasticidade Jeffrey Schwartz) e que se apresenta como extremamente útil ao permitir a aplicação de etapas concretas em sessão, e fora dela, para o paciente gerir as obsessões e compulsões, aumentando a sua sensação de controlo e facilitando alterações neurobiológicas que a imagiologia tem apoiado.

O Mindfulness é outra abordagem que vejo como eficaz na intervenção nesta perturbação ao ajudar o paciente a lidar com os seus pensamentos e comportamentos que surgem como obrigatórios e intensos, sem os reprimir. Na verdade, a repressão dos mesmos funciona como uma lupa para a ansiedade. O Mindfulness permite à pessoa observar sem agir e sem negar a sua experiência interior enquanto aumenta o seu nível de bem-estar global.

Finalmente, uma abordagem Sistémica fornece uma contributo decisivo ao permitir-nos identificar e experienciar o papel das experiências e papéis relacionais significativos para a origem e manutenção dos sintomas do paciente, entendendo os vários sistemas onde se encontrou e encontra e sem esquecer o cariz hereditário e vicariante que estes tipo de tendências pode acarretar. Realço aqui, e novamente, o papel primordial que os familiares podem desempenhar no processo psicoterapêutico e sempre em consonância com a decisão do paciente.

A Psicoterapia pode atingir 80% de eficácia nestes casos sendo que a psicofarmacologia é, muitas vezes, um bom auxiliar do trabalho psicoterapêutico. É assim possível contribuir para a regulação da pessoa e ajudá-la a sentir o bem-estar necessário para usufruir da sua vida, das pessoas de quem mais gosta e dos seus objetivos. Com liberdade!


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