Perturbação Obsessivo-Compulsiva
O que é?
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva caracteriza-se pela presença frequente e intensa de obsessões e/ou de compulsões (descritas abaixo). O ciclo obsessivo-compulsivo leva a que perante uma obsessão a pessoa sinta a necessidade de suprimi-la ou neutralizá-la através de uma compulsão. Este mecanismo reduz temporariamente o desconforto causado pela obsessão mas reforça o ciclo, e com este a necessidade de controlo e a procura de certeza.
Importa diferenciar a Perturbação de Personalidade Obsessiva-Compulsiva da Perturbação Obsessivo-Compulsiva. A primeira está ligada à preocupação com detalhes, regras, listas, arrumação, perfecionismo e controlo mental e interpessoal. Caracteriza-se por uma forma de funcionar “tudo ou nada”, inflexível e extrema nas relações pessoais e laborais que a pessoa aceita como parte de si, dizendo-se assim egossintónica. Esta característica faz com que as pessoas com Perturbação de Personalidade Obsessiva-Compulsiva possam ser muito resistentes à mudança e à aceitação de orientação exterior. Já a Perturbação Obsessivo-Compulsiva é egodistónica, ou seja, está em conflito com o conceito que a pessoa tem de si mesma. Desta forma, a pessoa sente frustração ou angústia quando se apercebe dos sintomas desta perturbação.
É também importante distinguir a Perturbação Obsessivo-Compulsiva dos pensamentos intrusivos ocasionais ou comportamentos repetitivos comuns à maioria da população (como verificar uma segunda vez que se trancou a porta). Assim, fatores importantes a considerar ao ponderar a presença desta perturbação incluem o grau de sofrimento associado às obsessões e/ou compulsões e o tempo despendido com estas (mais de 1 hora por dia), sendo, nos casos mais severos, uma perturbação possivelmente incapacitante.
Quais os principais sinais e sintomas?
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva compreende a presença de obsessões, compulsões ou ambas.
Obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes, intrusivos e persistentes, causando elevados níveis de ansiedade e dúvida. Não são meras preocupações exageradas com problemas da vida “real” e são de tal forma desconfortáveis que a pessoa tenta suprimi-los ou neutralizá-los, realizando alguma ação ou pensamento. As obsessões mais comuns incluem:
- Contaminação;
- Dúvida permanente;
- Preocupações somáticas;
- Agressividade;
- Sexualidade.
Compulsões consistem em comportamentos repetitivos (como organizar, lavar, verificar) ou atos mentais (como rezar, contar ou repetir palavras em silêncio). As compulsões são sentidas pela pessoa como ações obrigatórias ou necessárias em resposta a obsessões ou regras prévias rigidamente definidas. Assim, as compulsões pretendem reduzir ou evitar o sofrimento imediato causado pela obsessão, mas também podem procurar evitar uma situação temida que poderá acontecer caso não sejam realizadas - mesmo que a compulsão não se relacione de forma realista com o evento temido (por exemplo, organizar itens simetricamente para prevenir dano a um ente querido). As compulsões mais comuns incluem:
- Verificação;
- Lavagem ou limpeza;
- Contagem ou repetição;
- Organização com simetria e precisão.
Assim, é importante estar atento a sinais de alerta que podem indiciar a presença desta perturbação:
- Pensamentos intrusivos muito recorrentes;
- Comportamentos “obrigatórios” sem razão aparente;
- Necessidade de realizar rituais;
- Dores de cabeça nas zonas orbitais (perto dos olhos);
- Dificuldades no sono;
- Grande ativação fisiológica e ansiosa;
- Desconfiança e vinculação com os outros insegura;
- Dificuldade em estar no “aqui e agora”;
- Intolerância à incerteza.
Quais as possíveis causas e fatores de risco?
Fatores biológicos
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva pode resultar de aspetos neurobiológicos. Por exemplo, uma parte do nosso cérebro chamada núcleo caudado pode não ser eficaz na transição entre pensamento e ação. A hereditariedade consiste também num fator importante, sendo a presença desta perturbação duas vezes mais elevada em indivíduos com familiares em primeiro grau que também a apresentam.
Fatores psicológicos
Determinadas características psicológicas podem aumentar a vulnerabilidade ao desenvolvimento desta perturbação. Estas incluem a tendência para a internalização de sintomas, emocionalidade negativa e inibição comportamental durante a infância.
Fatores ambientais
Diversos fatores ambientais podem acrescer riscos, incluindo a exposição a acontecimentos adversos perinatais (isto é, próximos ao momento do nascimento), nascimento prematuro, utilização de tabaco por parte da mãe durante a gestação, abuso sexual ou físico durante a infância e outros acontecimentos traumáticos.
Pode estar associada a outras perturbações?
As pessoas com Perturbação Obsessiva-Compulsiva tendem a apresentar outras dificuldades, nomeadamente relacionadas com ansiedade (incluindo Perturbação de Pânico, de Ansiedade Social, de Ansiedade Generalizada e Fobias Específicas). Igualmente comuns são as coocorrências com perturbações depressivas, perturbações de controlo de impulsos e de abuso de substâncias. Pessoas com Perturbação Obsessivo-Compulsiva estão em maior risco de apresentar problemáticas de tiques. Finalmente, pessoas com esta perturbação têm maior probabilidade de apresentar outras perturbações relacionadas com o ciclo obsessivo-compulsivo, como a Tricotilomania e a Perturbação de Escoriação.
Qual a prevalência e mortalidade?
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva constitui-se como a 4ª perturbação psicológica com maior prevalência, afetando 1 em cada 40 adultos. Em 65% dos casos os sintomas surgem antes dos 25 anos e apenas em 15% surgem após os 35 anos.
A investigação tem encontrado taxas elevadas de ideação suicida (cerca de 44%) e tentativas de suicídio (cerca de 14%) em indivíduos com Perturbação Obsessivo-Compulsiva. Os preditores de um maior risco de suicídio incluem a severidade da perturbação, a dimensão do sintoma dos pensamentos sentidos como inaceitáveis e a severidade dos sintomas depressivos e ansiosos que podem coocorrer com esta perturbação.
Como pode a psicoterapia ajudar?
A investigação tem apontado para uma eficácia da Psicoterapia que pode chegar aos 80% na Perturbação Obsessiva-Compulsiva. Assim, embora consista numa perturbação com potencial para causar grandes doses de sofrimento, o prognóstico pode ser positivo com o devido acompanhamento.
No seio da Abordagem Integrativa em Psicoterapia que adotamos, salienta-se a Psicoterapia Cognitivo-Comportamental como a vertente que apresenta resultados mais robustamente sustentados pela investigação. Esta vertente visa ajudar a pessoa de forma abrangente ao nível dos seus pensamentos, emoções e comportamentos. De grande utilidade para intervir na Perturbação Obsessivo-Compulsiva é, também, o Modelo dos 4 Passos, também conhecido por “Brain Lock”. Este modelo ajuda a pessoa a compreender o que ocorre no seu cérebro durante o ciclo obsessivo-compulsivo, fornecendo ferramentas para quebrá-lo e gerir o desconforto associado inicialmente a esta quebra.
A Terapia Baseada em Mindfulness é outra abordagem muito útil ao permitir à pessoa a aquisição de ferramentas de “atenção plena”. Esta abordagem reduz a ansiedade, promove a flexibilidade psicológica e a capacidade de usufruir do momento presente.
Finalmente, uma abordagem Familiar e Sistémica permite-nos identificar, experienciar e ajustar o papel das experiências e papéis relacionais e familiares significativos para a origem e manutenção da Perturbação Obsessivo-Compulsiva.
Referências
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