Ansiedade Social e Fobia Social

"Na escola, sempre tive medo de ser chamado a responder, mesmo quando sabia as respostas. Quando arranjei trabalho, odiava reunir-me com o chefe. Não conseguia almoçar com os meus colegas de trabalho. Estava preocupado se ficam a olhar para mim ou me julgavam, e preocupado se iria fazer figura de parvo. O meu coração disparava e começava a suar quando pensava nestes encontros. Estes sentimentos tornavam-se mais fortes à medida que o evento estava mais próximo. Às vezes, não conseguia dormir ou comer vários dias antes de uma reunião de equipa."

USA National Institutes of Health

A ansiedade é um sistema complexo de respostas automáticas, podendo ser cognitivas, emocionais, fisiológicas e/ou comportamentais, sendo idiossincrático a cada pessoa tendo em conta que é estruturado ao longo de toda a vida como resultado das experiências relacionais e ligadas a acontecimentos significativos. Em cada pessoa, este sistema é activado no momento em que é percepcionado um acontecimento que é considerado como altamente aversivo ou perigoso, sendo sentidos como acontecimentos imprevisíveis, incontroláveis ou, mesmo, ameaçadores ao próprio. O sistema nervoso autónomo assume o controlo, levando-nos a uma resposta do tipo “luta ou fuga”.

No entanto, este processo complexo, a ansiedade, é um dos melhores e mais completos mecanismos de evolução e adaptação do ser Humano, tendo em conta que permite dirigir a atenção, focar objectivos ou metas e agir de acordo com a informação recolhida. Mas, como é referido anteriormente, num extremo e em certas situações, a ansiedade pode deixar de ser adaptativa e passar a ser um motivo de disfuncionalidade para a pessoa no seu dia-a-dia, bastando, para isso, que a avaliação de uma situação seja realizada de forma incorrecta, sendo percepcionado um maior perigo para o próprio e levando ao prejuízo do funcionamento adaptativo, prolongando-se no tempo.

A Perturbação de Ansiedade Social é a mais comum das perturbações ligadas à ansiedade e é, também, a perturbação mais disfuncional das mesmas, visto poder estar relacionada com diversas áreas de actuação de cada pessoa, ao longo da sua vida.

Como é demonstrado pelo testemunho que introduz este texto, a ansiedade social pode manifestar-se em diferentes áreas de vida, em momentos diferentes, podendo estes ser a escola ou o trabalho ou, mesmo, em situações sociais como saídas ou encontros com amigos ou familiares. De forma geral, a ansiedade social manifesta-se em situações sociais que possam ser percebidas como invasivas, tendo a pessoa um forte receio de ser humilhada ou julgada pelos outros, conhecidos ou desconhecidos. A forma como este tipo de ansiedade se manifesta leva a uma grande intensidade emocional que pode dificultar ou impedir a sua rotina diária, mantendo uma sensação de mal-estar constante que leva a pessoa a ter receio de situações que, o próprio, e racionalmente, entende como sendo boas para ele.

Num extremo, esta ansiedade pode resultar em Fobia Social, uma manifestação severa da ansiedade social e que se manifesta pela fuga e evitamento de situações sociais ou, quando não o é possível, com a antecipação ansiogénica do evento durante dias antes do mesmo. Como refere o texto em cuna, a pessoa sente uma ansiedade tão grande que deixa de conseguir ter a “calma” necessária para dormir ou descansar ou mesmo para se alimentar de forma saudável. Como se a pessoa não conseguisse viver “no aqui e agora”, no momento presente, e vivesse focada no futuro. Os sintomas físicos, como tremores, suores, taquicardia ou dores de cabeça intensas são também comuns como resultado da ansiedade social e fobia social.

A ansiedade é adaptativa quando utilizada a nosso favor, podendo tornar-se disfuncional e patológica quando nos impede de agir e/ou de preencher as nossas necessidades emocionais. O caminho passa então pela aceitação, sem julgamento, de quem somos. Um caminho desafiante mas que possibilita o bem-estar que merecemos e precisamos.