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As sombras e as luzes de Natal

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

As sombras e as luzes de Natal

Quer se goste, quer não se goste (ou não se dê importância), não haverá muitos temas tão capazes de tocar de formas tão opostas os meus pacientes, os meus amigos, os meus conhecidos e as pessoas que fui conhecendo até hoje como o Natal. Luzes e sombras que irei agora visitar consigo a meu lado.

As sombras. O Natal é uma época que nos pode fazer sofrer. Sentimos falta de quem já faleceu, com dor e saudade. E olhamos para aquele lugar vago na ceia de Natal onde, em tempos, estava aquela pessoa que nos iluminava com o seu sorriso, com o seu calor, com a sua história. E que agora já não está. Pelo menos, da forma a que nos habituou.

É também no Natal que muitas pessoas se sentem sós. Porque a vida as afastou de quem gostavam, porque nunca tiveram alguém assim tão próximo, porque não cuidaram delas o suficiente e as deixaram ir, por estarem num sítio desconhecido ligado a um novo rumo na sua vida. Por muita coisa diferente. Mas a sensação de vazio é a mesma, profunda e fria como a neve que cobre os pinheiros de Natal por esse mundo fora. Muita desta dor advém daquilo que é “suposto” ter-se e viver-se por esta altura: é suposto termos uma grande família, cheia de sorrisos, prendas, crianças a saltar sob o olhar carinhoso dos mais velhos e uma mesa repleta de pratos da época.

É isso que nos entra pela casa adentro, cada vez mais cedo, em cada ano que passa. O consumismo e o mundo de aparências que se alastra e que nos seduz de forma cada vez mais irresistíveis. Procuramos então avidamente um ideal que, muitas vezes, não corresponde à nossa vida. E deprimimos porque não o temos: nem a casa cheia nem o sapatinho cheio. Porque não se tem pessoas e porque não se tem bens. Para muitos, apenas o nada e o ninguém são família na noite de Natal – e a estatística mostra bem o quanto a vida deixa de ser suportável para demasiadas pessoas.

É que a vida pode ser muito dura. Há pessoas que precisam de tudo - nunca nos poderemos esquecer disso. Disso de sermos humanos. O Natal pode, também, fazer sofrer quem está doente e cuja única prenda desejada é “saúde”. Para si e para pessoas mais próximas. Longe podem ir os tempos onde a pessoa fazia tudo, estava autónoma e carregava em si a alegria que alimentava o frenesim natalício de toda uma família. Também há quem sinta o peso do Natal por conflitos vividos em família. Esta que é a altura da relação, do afeto, da incondicionalidade das pessoas, do tempo e do espaço. O aproximar do dia de Natal pode representar um maior contacto com esses momentos de tensão, de desilusão, de afastamento.

As luzes. Magia, pura magia tem o Natal. Quando somos crianças mas não só. Ficarão para sempre nos nossos corações aqueles minutos em que corríamos para as prendas (e para os abraços da família!) depois de tanta antecipação e crença magicamente inocente no Pai Natal ou no Menino Jesus (crenças, por que as perdemos quando nos tornamos adultos?). Todo o ritual familiar que é o Natal: o escolhermos a lembrança certa para a pessoa certa, o andarmos a correr de um lado para o outro nos dias que o antecedem, juntar família e amigos, viajar com a casa às costas, abraços e reencontros. Nada pode faltar. As ruas enfeitadas por iluminações coloridas que nos entusiasmam a alma pela aproximação de mais uma quadra Natalícia. As castanhas assadas e quentinhas, os cascóis bem enrolados e as mãos que se escondem nos bolsos amigos do casaco. O aconchego da lareira e as conversas sem fim ao som das bonitas melodias natalícias e que ecoam docemente na nossa mente, sem prazo. As histórias engraçadas que os avós contam com aquele amor, com aquela sabedoria, com aquele jeito que só eles têm. E os pais que tanto fazem pelos seus filhos, dia após dia. Que se sacrificam em tantos papéis e responsabilidades. Tantas vezes, em prejuízo da própria relação. Mas que renascem naquela noite com a luz dos olhos das crianças, as suas e as de todos.

As pessoas estão alegres e querem partilhar este momento especial do ano: os dias correm tanto que ter a oportunidade de estarmos com quem gostamos tem de ser vivido até ao último segundo! Os pratos e as sobremesas típicas embrulhadas em tradições ancestrais que só nós podemos perpetuar. Porque ter família é fazer parte, é crescer, viver e morrer juntos. É sermos um só. É acolhermos novos membros, incluindo bebés que trazem consigo a esperança de um mundo melhor! É relembrar bons momentos com quem já não está cá, é sentir a sua companhia, o seu carinho eterno e viver este Natal como ele ou ela gostaria que vivêssemos. Até mesmo as diferenças, os defeitos e os “feitios” de cada um se esbatem na noite mais bela do ano. É tão bom estar depois de tanto fazer. E damos longos abraços que durarão, desejamos nós, até ao próximo Natal. Porque são feitos de amor, de amizade e de aceitação.

O Natal é uma época de contrastes. De frio e de calor. De algazarra e de silêncio. De bons sofás e de chão duro e sujo. De sorrisos estridentes e de lágrimas profundas. De encontros e de perdas.

Mas o mais importante será, para mim, retirarmos dele o que nos é mais importante, aquilo que for mais de acordo com as nossas necessidades emocionais e humanas. Ajudando quem precisa e dando-lhe um Natal que nunca teve – e repeti-lo durante o ano inteiro. Ajudando-nos a nós mesmos, cuidando de quem somos e dando-nos um dia especial – e repeti-lo o ano inteiro. Fruindo mais quem temos e o que temos e sofrendo menos pelo que não temos. Dando permissão a quem fomos, somos e seremos, sem condições. Seja o Natal relevante ou não para cada um de nós, o que importa é que tenha o sentido que nos faz sentido. Somos todos humanos, precisamos de nós, precisamos dos outros e eles de nós. E o Natal pode bem ser um símbolo de relação - feito de luz e feito de sombra.
Boas Festas!


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