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Arte-Psicoterapia: como funciona?

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

Arte-Psicoterapia: como funciona?

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia, a Arte-Psicoterapia “destaca-se como um método de tratamento psíquico que utiliza mediadores artísticos no contexto de um processo terapêutico específico.” Esses mediadores artísticos são materiais ou tipos de arte que facilitam o processo e permitem a transformação.

“Isto resulta então numa relação terapêutica própria baseada na interacção entre o/a sujeito/a/paciente (criador/a), o trabalho artístico (criação) e o/a arte-terapeuta/psicoterapeuta. O recurso à imaginação, simbolismo e metáforas enriquece o processo. As características acima referidas facilitam a comunicação, o ensaio de relações de objeto e a reorganização de objetos internos, uma expressão emocional significativa e um maior autoconhecimento, libertando assim a capacidade de pensar e a criatividade (Carvalho, R., 2001).

Um processo de arte-psicoterapia inicia-se sempre com uma avaliação do pedido que o/a paciente traz, faz-se uma investigação de todos os sintomas relevantes no quadro clínico do/a paciente e da sua história de vida. Neste ponto, há logo uma distinção entre a arte-psicoterapia e as psicoterapias verbais: a própria história de vida é feita com recurso a mediadores artísticos, nomeadamente ao nível da pintura e do desenho, por forma a realizar uma história de vida ilustrada. Este facto permite que os/as pacientes experienciem diversos tipos de materiais à medida que vão falando sobre si, sobre as suas questões pessoais, sobre as suas dificuldades e os acontecimentos de vida mais relevantes. Normalmente este processo, sendo ilustrado, traz à luz alguns conteúdos que não estavam tão presentes no consciente. São exemplo disso quando os/as pacientes encontram novas relações entre acontecimentos ou ganham consciência da importância que estes têm para os problemas actuais.

Abaixo deixo-vos um exemplo de uma paciente que acompanho [naturalmente, com a devida autorização da mesma]:

Exemplo Arte-Psicoterapia familiar

Durante a exploração da história de vida, uma das criações que se pede é o desenho de uma família com canetas de feltro.

Esta paciente escolheu desenhar a sua própria família, desenhando-se a si mesma como a criança mais pequena que está a dar a mão ao pai. Isto permitiu-nos navegar pela relação que ela teve/tem com cada uma das pessoas da família, quais os mais próximos, os mais distantes, aqueles com quem existe maior conflito, qual a relação que os elementos da família têm entre si e como isso foi importante (positiva ou negativamente) no crescimento dela. O facto de existir uma imagem que represente estas pessoas ajuda-nos a perceber dinâmicas que aparecem intuitivamente desenhadas na folha e que podem até, mais tarde, voltar a ser olhadas em sessão.

Ao longo de todas as outras sessões, após a criação da história de vida, utilizam-se os materiais ao serviço dos temas que surgem em cada uma das consultas. Um/a arte-psicoterapeuta estuda intensamente as potencialidades de cada material com que trabalha. Isso faz com que possa sugerir ao/à paciente a melhor opção para explorar/trabalhar cada um dos problemas apresentado.

Os mediadores que podemos utilizar em arte-psicoterapia são:

  1. Pintura e Desenho;
  2. Modelagem e Escultura;
  3. Colagens;
  4. Drama, Jogos dramáticos e Marionetas;
  5. Expressão Corporal;
  6. Música e Canto;
  7. Poesia Criativa e Escrita Livre;
  8. Histórias, Contos e Mitos;
  9. Imaginação Guiada;
  10. Tabuleiro de Areia;
  11. Construções 3D com diversos materiais;
  12. Postais.

Não é obrigatório utilizá-los todos ao longo de um processo arte-psicoterapêutico e é absolutamente respeitado se um/a paciente tem aversão a trabalhar com algum destes mediadores. Naturalmente os motivos dessa aversão poderão ser também depois explorados, se o/a paciente também estiver disponível para isso.

Cada um destes mediadores tem mais potencialidades para um determinado tipo de trabalho e vai facilitar o contacto com dimensões específicas do ser humano. Por exemplo, quando tenho de facilitar a expressão da zanga de um/a determinado/a paciente que tem muita dificuldade em zangar-se, utilizo bastantes vezes a modelagem ou exercícios de expressão corporal. Ambos os mediadores permitem o acesso a essa zanga, potenciam a sua descarga (muitas vezes necessária para não ser acumulada e/ou mal direccionada) e depois permitem integrá-la de forma mais saudável e criativa.

Materiais diferentes permitem fazer diferente trabalho emocional e como não estamos só no nível de comunicação verbal, possibilita trabalhar mecanismos de defesa sem os confrontar e ir promovendo mudança em conteúdos a que o/a paciente ainda não tem acesso conscientemente. A arte-psicoterapia permite ir fazendo esta configuração estética das dimensões do/a paciente a vários níveis, dando-lhe o suporte necessário para que se sinta seguro/a a explorar/trabalhar temas muito difíceis sem ter logo de os verbalizar ou falar directamente sobre eles. Esse espaço vai sendo conquistado aos poucos, as criações vão sendo veículos de comunicação simbólica importantíssimos para dar forma ao que se é e ao que se quer ser.

Cada intervenção é desenhada à medida, como um trabalho de alfaiate, de acordo com as características do/a paciente, o pedido que este/a traz e a forma como os materiais podem contribuir para esses objectivos. É um caminho que se faz em conjunto, no qual acredito profundamente e que me surpreende a cada sessão.

Referências Bibliográficas:
CARVALHO, Ruy (2001). A arte de sonhar ser. In: Imagens da transformação. Clínica Pomar. Rio de Janeiro.


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