Olá, como vos posso ajudar?
Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.
Hoje gostava de vos falar sobre empatia, uma palavra que se utiliza muitas vezes mas que pode ser mal interpretada ou mal entendida. Numa consulta com uma paciente, a trabalhar sobre formas de comunicação com a sua filha adolescente, surgiu o tema e a importância de desenvolver a empatia e a comunicação empática.
Desenvolver a empatia é uma viagem, um “processo”, expressão que nós psicólogos gostamos muito de utilizar quando algo é complexo e precisa de um tempo considerável de aprendizagem, treino e aprofundamento. Ser empático com as outras pessoas não é simplesmente aceitar as suas opções, ideias, comportamentos ou perspectivas de vida. Ser empático não é concordar com tudo o que o/a outro/a diz. Ser empático é compreender que o/a outro/a pode tomar determinadas opções se para ele/a for importante ou fizer sentido, mesmo que não se concorde com elas. Ser empático é perceber que há um contexto, uma história em todos nós, que é diferente de pessoa para pessoa e que isso pode influenciar (e influencia, tantas vezes…) as escolhas e opções que se tomam.
Ser empático é, por exemplo, observar que a outra pessoa está em sofrimento e dizer-lhe que lamentamos muito que se sinta assim, que deve ser muito difícil sentir-se daquela forma, sem a borbardearmos com 30 soluções para o que ele/a pode fazer para se sentir melhor. Talvez essas 30 soluções funcionem connosco, mas será que funcionam com ele/a? Será que ele/a consegue ter no aqui e no agora energia para as colocar em prática? E quantas vezes damos sugestões que não aplicamos connosco, porque não conseguimos, porque temos medo, por tantos motivos diferentes…
Ser empático implica que sou capaz de ver a outra pessoa como ela é e respeitá-la por isso, o que significa ser em primeiro lugar empático/a comigo e respeitar aquilo que sou, valorizar as opções que tomo, sem estar (por exemplo) sempre a pensar o que vão pensar de mim, se é a opção correcta ou não (correcta, para quem?).
Tantas vezes não aceitamos coisas nos/as outros/as porque eles/as espelham coisas que não aceitamos em nós próprios/as, muitas delas que temos dificuldade em admitir, reconhecer, acolher, aceitar, permitir… As 30 soluções que damos ao/à amigo/a são para o/a ajudar ou para tentar que ele/a ultrapasse aquele sofrimento rápido porque nós não sabemos o que fazer quando alguém está triste, angustiado/a, perdido/a, zangado/a…porque também não sabemos o que fazer quando essas emoções surgem dentro de nós? Porque ele/a nos pode lembrar que nós também temos essas dificuldades ou outras que se associem a essas?
Aqui, para mim, chegamos a um ponto importantíssimo: porque nos é tão difícil aceitar as emoções desagradáveis, seja em nós próprios ou nos/as outros/as? Todo o condicionamento que vivemos desde que nascemos até ao momento presente pode ajudar-nos a compreender melhor esse fenómeno. Acredito que várias mensagens que nos são passadas culturalmente (a par com a nossa história individual, claro) têm um papel muitíssimo importante na forma como nos vemos e como olhamos para a nossa vulnerabilidade. A pressão para estar sempre “tudo bem” (até quando nos cumprimentamos na rua, já repararam?), para sermos sempre muito bons/boas no que fazemos, para cumprir determinadas etapas numa determinada ordem no nosso desenvolvimento, para adquirir um conjunto de bens, etc etc…
E quando não está tudo bem? O que fazemos com isso? Muitas pessoas aprendem a esconder tão bem que só se confrontam com isso quando o próprio corpo começa a dar sinais: quando se desenvolvem questões físicas, quando têm ataques de pânico (muitas vezes confundidos com condições cardíacas), quando deprimem e “de repente” há um estado de apatia, tristeza, desmotivação, que não se consegue explicar.
A empatia é uma ferramenta muitíssimo poderosa no relacionamento com o/a outro/a e é uma das nossas maiores ferramentas de trabalho enquanto psicoterapeutas. O facto de olharmos para tudo aquilo pelo qual os/as nossos/as pacientes passaram e lhes dizermos e mostrarmos o quanto compreendemos o que estão a passar, o quão duro é o que estão a viver ou foi o que viveram. Muitas vezes este trabalho de estarmos com eles/as na dor é tão transformador que provoca saltos quânticos de transformação e desbloqueia imensos obstáculos que estavam estáticos nos seus processos de vida.
Abrir esse espaço de aceitação, escuta, permissão é tão importante na vida de todos os dias. Assumir que todos/as temos dias/momentos/fases maus/más e que às vezes “só” precisamos de alguém que nos veja realmente, que reconheça que isso existe e que esteja connosco ali até que seja preciso. Precisamos de nos aceitar mais como somos, com todas as fragilidades que temos, para conseguirmos aceitar os/as outros/as como são, e vice-versa. É preciso que se pergunte mais vezes “o que posso fazer para te ajudar?” em vez de assumir que o outro quer uma solução pronta em cima da mesa.
E quando perguntarem o que podem fazer para os/as ajudar, podem aproveitar para se perguntarem a vocês mesmos/as o que podem fazer para se ajudarem ou que ajuda precisam das pessoas à vossa volta.