Porque não consigo praticar mindfulness?
Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.
Nos dias que correm, cada vez mais ouvimos falar sobre mindfulness e os seus efeitos benéficos. Não é difícil encontrar alguém que até nos diz que esta prática mudou a sua vida.
Mas o que é realmente o mindfulness? A tradução deste termo para português é Atenção Plena. Muitas vezes, no nosso dia-a-dia estamos em modo piloto automático, o que nos leva a fazer coisas sem estarmos atentos. Por exemplo, quantas vezes estacionou o carro e a meio do caminho não se lembra se o trancou? Se estiver perto, talvez volte atrás para confirmar. É possível que tenha, de facto, trancado o carro, mas, como estava a pensar no que ia fazer quando chegasse ao seu destino, fê-lo sem pensar. Este é um bom exemplo em que o modo piloto automático está ativo.
Normalmente, em exercícios de mindfulness, focamo-nos na respiração para nos ajudar a trazer para o aqui e agora, ou seja, estar totalmente presente e consciente do que somos e estamos a fazer naquele momento. Se começarmos a praticar com regularidade, começamos a estar presentes ao longo do dia e, assim, desligar o modo piloto automático. A longo prazo, esta prática trará benefícios em termos de bem-estar, menores níveis de stress e frustração, um maior auto-controlo, melhor capacidade emocional, entre outros tantos.
Mas porque é que ouvimos tantas vezes pessoas dizer que não conseguem fazer mindfulness? Não é incomum ouvir pessoas que dizem que não se conseguem acalmar quando estão a fazer uma prática e que, por isso, a atenção plena não funciona para elas. Também ouvimos com frequência a sugestão de exercícios de mindfulness para gestão de emoções, nomeadamente as consideradas desagradáveis, por exemplo, quando nos sentimos ansiosos. No entanto, este não é o objetivo principal desta prática, mas antes um efeito secundário. Se a vamos fazer com este fim, é possível que acabemos por ficar frustrados e desistamos porque “não funciona connosco”.
Então, qual é o objetivo do mindfulness? Sendo nós seres humanos, não é expectável que a nossa mente fique uma tela branca quando vamos meditar. Através do mindfulness aprendemos a estar no momento presente, aceitando todos os pensamentos que surjam na mente, sem nos deixarmos controlar por eles. Aceitar os pensamentos significa tornarmo-nos mais conscientes da sua presença, reconhecê-los e observá-los, sem julgamento, ao invés de lutar contra eles. Além disso, à medida que praticamos apercebemo-nos que os pensamentos aparecem e desaparecem – são, tal como as emoções, transitórios.
Assim, ao invés de suprimir todas as emoções desagradáveis, o mindfulness permite que, ao tornar-nos mais conscientes dos nossos pensamentos e emoções, possamos decidir melhor como lidar com elas momento a momento. Em consequência, vamos poder reagir de forma mais calma quando estamos perante situações difíceis.
Em suma, o mindfulness, a longo prazo, pode diminuir o nível de stress e melhorar o bem-estar, no entanto, o grande objetivo desta prática é que esteja atento e consciente de si. O resto pode ser visto como um bónus.