Bem te quero, mal me quero? Quando o nosso bem-estar parece depender dos outros
Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.
Por sentirem necessidade de serem cuidadas e aprovadas pelo outro, adotam muitas vezes comportamentos mais passivos ou submissos na maioria dos contextos. Por sentirem medo de serem rejeitadas ou abandonadas, agem de forma a tentar não desiludir os outros ou a fazê-los sentir emoções desagradáveis. E tudo isto para poderem receber cuidado e aprovação em troca. No fundo, é como se a criança que foram outrora vivesse dentro delas. E na verdade, vive mesmo.
Diz sempre que sim, mesmo quando não o quer fazer? Tem dificuldade em tomar decisões sem a aprovação de alguém? Muitas pessoas parecem precisar de agradar o outro para se sentirem bem e seguras consigo mesmas.
Pessoas com um funcionamento dependente (em inglês, chamadas people pleasers) são muitas vezes vistas pelo outro como amáveis, dóceis, pacíficas e sempre prestáveis. À primeira vista parecem ser características favoráveis a qualquer um de nós. Mas na verdade, em alguns casos, isso pode também significar que são incapazes de se adaptarem autonomamente aos desafios do dia-a-dia. Escolher o que vestir todos os dias, negar pedidos que não querem satisfazer, afirmarem-se no contexto laboral ou até mesmo terminar relações onde não querem estar podem ser tarefas difíceis de concretizar para estas pessoas. Por sentirem necessidade de serem cuidadas e aprovadas pelo outro, adotam muitas vezes comportamentos mais passivos ou submissos na maioria dos contextos. Por sentirem medo de serem rejeitadas ou abandonadas, agem de forma a tentar não desiludir os outros ou a fazê-los sentir emoções desagradáveis. E tudo isto para poderem receber cuidado e aprovação em troca. No fundo, é como se a criança que foram outrora vivesse dentro delas. E na verdade, vive mesmo.
Quando somos crianças fazemos o que é necessário para estar em relação com os nossos cuidadores e, dessa forma, obtermos o amor e proteção que precisamos para a nossa sobrevivência. Vamo-nos adaptando ao contexto em que crescemos, formando os nossos padrões interpessoais. Assim aprendemos a relacionar-nos com os outros em resposta a como, durante a nossa infância, se relacionaram connosco. Imagine uma criança que cresce num ambiente controlador e de autoridade excessiva, onde não há espaço para a sua individualidade nem para os seus interesses diferenciados, e onde apenas recebe carinho e validação quando obedece ao que lhe é solicitado. Essa criança pode crescer a aprender que só é aceite se fizer o que os adultos esperam dela e que será punida ou rejeitada se expressar interesses e formas de pensar distintos. É dessa forma que o seu funcionamento se vai moldando ao outro, podendo sentir uma necessidade de aprovação constante para se sentir segura.
Se, por um lado, agradar o outro pode parecer garantir segurança, por outro, paradoxalmente, estas pessoas estão a cuidar pouco de si próprias. Em primeiro lugar, é-lhes difícil definir limites com assertividade, o que as coloca numa posição de passividade, esforço e sobrecarga. Para além disso, ao precisarem sempre da aprovação de outros nos vários domínios da sua vida são impedidas de aprenderem de forma independente, bem como de se sentirem confiantes em relação a si próprias. Tal poderá contribuir para um sentimento constante de “não se ser suficiente”, reunindo todas as condições para a autocrítica. De acrescentar ainda que, quando colocam sempre o outro em primeiro lugar, podem ter menos disponibilidade para identificarem e satisfazerem as suas próprias necessidades individuais. A longo prazo, tudo isso poderá manifestar-se em sintomas de ansiedade ou outras dificuldades psicológicas ou físicas.
Assim, é importante lembrar que quando nos tornamos adultos a nossa segurança depende de nós, e que deve ser construída na relação intrapessoal que estabelecemos connosco mesmos. Costumo também dizer aos meus pacientes que não precisamos de pessoas que nos rejeitam quando definimos os nossos limites, ou quando expressamos a nossa individualidade. Precisamos, sim, de relações saudáveis, onde há espaço para comunicar com respeito, expressar as nossas emoções e aceitar a individualidade de cada um. Dessa forma, proponho o seguinte:
- Quando lhe pedem algo, reflita sobre a resposta que quer dar antes de responder um sim imediato. Lembre-se que tem o direito a negar e que não precisa de fazer nada que não queira.
- Na relação com o outro, defina os seus limites. Experimente afirmar-se quando necessário (respeitando o outro).
- Evite colocar-se numa posição de esforço, onde faz de tudo para agradar o outro. Proteja o seu espaço individual.
- Cultive momentos só para si. Explore a sua individualidade. Que atividades gosta de fazer? De que precisa em cada momento?
Artigo publicado no Sapo 24