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Até que a morte nos junte

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

Até que a morte nos junte

A morte. Esse momento que nos é certo e sobre o qual a humanidade se debruçou desde os seus primórdios. O que acontece após a morte? Como adiá-la e, até, evitá-la? Será que está definido o seu momento a priori? E como nos preparamos para ela? Será que “voltamos” a existir após a nossa morte? Será que reencontramos as pessoas de quem gostamos e que faleceram ou que deixamos cá quando falecemos? Será que somos feitos de “corpo e alma” e que estes se separam no momento da morte? Será que algum dia iremos impedir a morte? E a morte medicamente assistida? E como lidar com a morte dos nossos animais de estimação? Enfim, são inúmeras perguntas as que fazemos sobre a morte numa busca incessante por respostas e soluções que nos permitam entendê-la. E enquadrá-la na vida.

A morte é, certamente, um dos assuntos que mais envolveu as várias culturas, religiões e etapas da humanidade. Anúbis, deus egípcio dos mortos; Thanatos, divindade grega que representa a morte; Hela, deusa dos mortos na mitologia nórdica; Leto, que representava a morte na mitologia romana ou Ah Puch, o deus da morte para os maias são apenas algumas representações das imensas que encontramos na história. Dar corpo, forma e existência à morte ajuda a lidar com ela.

A morte é algo que não controlamos - por muito que nos esforcemos. Ela representa o fim da vida tal e qual a conhecemos. Simboliza o desconhecido, o vazio que alimenta o ciclo da vida. Afasta-nos das pessoas que amamos e leva-as com ela. Cria-nos um medo universal que nos pode impedir de viver. A morte sublinha a nossa humanidade, a nossa fragilidade, a nossa finitude. Pensarmos em morte implica pensarmos em dor, física e psicológica. Uma sensação de angústia universal que nos faz, demasiadas vezes, tentar não pensar ou sentir sobre ela. Em casos de maior sofrimento, a morte pode até aparecer como uma forma de pararmos a dor que a vida nos causa – será que queremos morrer ou queremos sim, matar a vida sofrida que temos e iniciar uma nova em seguida?

Por ter toda esta densidade, a humanidade tem procurado encontrar, como referi, explicações, teorias, provas científicas que ajude a explicar, prever e, até, impedir a morte. E existe uma riqueza interminável na forma como encontramos explicações tão diferentes e até opostas para o processo da morte. Porém, a morte pode ser, para muitas famílias, um tema tabu e que nunca é abordado mas sim evitado. O que pode conduzir a que as crianças e, mais tarde, adultos, cresçam sem saber do que se trata na sua essência mais profunda e sem saber como lidar com ela (relembro aqui uma criança que um dia conheci e que estava triste porque não sabia para onde tinha ido o avô). Como se a morte fosse um daqueles pensamentos ansiogénicos que tentamos, a todo o custo, evitar mas que teimam em surgir nossa mente – na verdade, o nosso cérebro está preparado para nos voltar a enviar esse tipo de informação se detectar que não estamos a processá-la e como tendo ocorrido um “erro de processamento de informação”. Não abordar a morte conduz, invariavelmente, à dificuldade em se lidar com ela. Reprimi-la aumenta o seu potencial para nos causar sofrimento, ainda mais. Então o que fazer?

Paradoxalmente, e no meu entender, o segredo para lidarmos com a morte está na nossa capacidade em viver de forma plena e no momento presente. Logo, está na própria vida. Aceitar a morte – e a realidade da perda - é uma etapa dolorosa mas necessária em qualquer luto. E quantos lutos enfrentamos na vida! Relações amorosas que terminam, doenças que nos fazem perder qualidade de vida ou de pessoas próximas, saídas de locais de trabalho, mudanças de residência, o próprio passar dos anos e os efeitos naturais da idade, a morte de pessoas queridas e tantos outros. Quanto mais procuramos evitar a morte, mais nos aproximamos dela já que não estamos a viver. Este tipo de preocupação no destino não nos deixa usufruir da viagem…

Devemos, também, definir ao longo da vida, aquilo que lhe dá sentido e nos faz sentir realizados. Aqueles marcos que nos enraízam neste mundo, com esforço mas, acima de tudo, com muito prazer. Isto implica estarmos focados em quem somos – e não no que transparecemos para os outros. Ainda que tenhamos necessidades fisiológicas e psicológicas semelhantes e estudadas, aquilo que dá sentido à vida de cada um difere mais do que achamos. E logo que o encontrarmos, devemos lutar por ele, sem receios. A forma como vemos a nossa existência passa, e muito, por termos atingido aquilo que mais sentido dava à nossa vida. Na verdade, vamos sempre a tempo. Pelo menos, de tentar e ver como é. A vida precisa disso e nós também. E aqui reside mais uma ajuda para lidarmos com a morte.

Esta pessoa que somos, aqui e agora, nasceu - e de que maneira - das pessoas importantes que tivemos e que um dia nos deixaram. Na realidade, eles estão vivos através de nós. Das lembranças que guardamos carinhosamente, dos comportamentos, conhecimentos e expressões que com eles aprendemos, das emoções intensas que sentimos por eles, das partilhas únicas que o tempo nunca apagará. A morte tira-nos pessoas e animais de estimação que amamos. Dói horrores. É preciso sentir essa dor, aceitando-a e dando-lhe o espaço e tempo de que precisa dentro de nós. Ao nosso ritmo e à nossa maneira. É que senti-la vai ajudar-nos a sentir a vida e a continuarmos o nosso caminho. Na verdade, não estamos sozinhos. Eles que nos deixaram viverão dentro de nós e assim será nas gerações seguintes. Podemos, agora, aproveitar a vida, as pessoas que amamos e o tal sentido que damos a mais um dia. É tempo de continuar. Para sempre.


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