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O belo final

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

O belo final

No trabalho psicoterapêutico, a ideia da morte juntamente com a angústia e ansiedade que geralmente a acompanham, são questões bastante recorrentes. É um tema difícil e complexo que explora a profundidade da identidade de cada um e para a qual não existem nem grandes respostas, nem orientações universais que não tenham de ser talhadas, ao jeito de alfaiate, para cada uma das vidas que se debatem com esta questão.

A questão da morte e do sentido da vida é uma questão de discussão eminentemente filosófica. No entanto, a sua importância para a psicologia é por demais evidente, sendo vários os autores e as correntes de pensamento que a abordam. O psicoterapeuta Yalom dedica-lhe um livro inteiro (De olhos fixos no sol), partindo a ideia de La Rochefoucauld que diz “não se consegue olhar de frente nem o sol, nem a morte”. Um dos exercícios que ele sugere (ironicamente, não nesta obra, mas noutra “A cura de Schopenhauer”) é refletir sobre o conteúdo do nosso epitáfio, escrito pelas pessoas que nos sobrevivessem. É um exercício poderoso, que nos confronta com uma realidade terrível, a do fim, mas que nos permite igualmente repensar o tempo e a vida que temos no intervalo que leva a esse fim. É também um exercício difícil, exigindo muitas vezes a tomada de consciência que esse intervalo já não nos permite experimentar tudo aquilo que podemos ter em agenda. Ou que queremos coisas contraditórias. É, por isso também, um exercício de escolha.

É muito frequente, neste exercício, as pessoas sentirem que, ainda que consigam espelhar o que, para elas, corresponde a uma vida bem vivida, paira a ideia de que falta alguma coisa. Pode haver alguma tendência para uma resposta excessivamente funcional aqui. A ideia de que falta alguma coisa é muito interessante já que o próprio Yalom fala do sentido da vida como uma onda, que provoca várias pequenas ondas, perpetuando-se em águas mais distantes. E, apesar da beleza da metáfora, é extremamente complicado traduzir isto na prática, no que representa efetivamente nas nossas vidas.

Há poucas semanas, tive a sorte de ler um livro que explora, de forma magnífica, histórias de vida e de morte, da beleza da imperfeição e dos motores que nos fazem avançar, quando ao redor tudo parece perdido. “Os dez espelhos de Benjamin Zarco” é uma obra que nos faz pensar sobre todas estas questões, explorando, até ao fim, a vida das suas personagens. E foi nessas páginas que encontrei um dos mais belos epitáfios, repleto de sentido(s). Diz assim:

Benjamin Rosenfeld Zarco, 24 de Setembro de 1930 – 19 de junho de 2017

Neto, filho, sobrinho, pai, primo, avô e marido bem-amado.

No fim, venceu.

E talvez seja isto que, em parte, todos procuramos.

Vencer, no fim.

Vencer como exercício de autodeterminação, como a responsabilização última por aquilo que fazemos, de perfeito ou imperfeito, numa dança constante entre a superação e a aceitação. Imagino que possa ser uma sensação poderosa esta, a de sentir que os acontecimentos não condicionaram a vida de forma a tornarmo-nos uma pessoa que não quisemos ser. É, efetivamente, um belo final.


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