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O ensurdecedor silêncio da Depressão

Blog escrito pelos psicólogos da Psinove. Exploramos temas relacionados com a psicologia e psicoterapia, desafios e reflexões do dia-a-dia.

O ensurdecedor silêncio da Depressão

A Depressão é uma doença incapacitante, com uma forte componente psicológica e outra fisiológica, que cada vez mais toma conta de uma fatia maior da população. É difícil de ver no outro e, na maioria das vezes, só é notada quando já é severa ou mesmo mortal. Apanha tudo e todos de surpresa em situações limite. Conhecer os seus sintomas, estar atentos a nós próprios e aos outros, respeitar o que sentimos e procurar ajuda podem ser a solução.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de depressão. Portugal é um dos países da Europa com maior percentagem de população com depressão, estimando-se que mais de 550 mil portugueses sofram com esta doença. Em todo o mundo, a depressão é a maior causa de anos vividos com incapacidade, com 7,5% da população mundial nestas condições. É, ainda, a maior causa de suicídio a nível mundial, com mais de 800 mil pessoas por ano a porem término à sua vida.

Estamos perante aquela que é há muito tempo dita como a doença do século. Os avisos foram muitos e desde muito cedo nada foi feito. E, mesmo assim, hoje, a saúde mental continua a ser o parente pobre da saúde.

A depressão é caracterizada por um estado de humor depressivo, por perda de interesse e de prazer nas actividades que são realizadas, por descuido das rotinas e das tarefas diárias e por uma acentuada falta de energia e de motivação. Além destes sintomas, existem ainda alterações ao nível hormonal e no funcionamento imunológico que expõem ainda mais a pessoa em depressão. Neste seguimento, a depressão é vivida de forma única por cada pessoa, sendo que para umas pessoas pode significar insónia e para outras hipersónia, ansiedade ou apatia ou perda ou aumento de apetite. A vivência destes sintomas pode levar a que as pessoas que sofrem de depressão se isolem, aumentando a severidade dos seus sintomas e a alienação da sua própria normalidade. A probabilidade de sofrer de uma depressão aumenta com o contexto socio-económico, com factores do ambiental e, mesmo, com a fisiologia interna.

Em termos culturais e sociais, a pessoa em depressão esconde-se da doença. É algo difícil de aceitar e, muitas vezes, de perceber. Há sempre uma razão para o desenrolar de uma depressão. Não tem de fazer sentido a mim, a si, à família ou, até às vezes, ao próprio. Mas existe, faz o seu caminho e tem de ser percebida o quanto antes. Ninguém o tem de propósito, pelo que não se muda de um momento para o outro. Não é simplesmente algo que se possa mudar, sorrindo.

É, também, erradamente confundida com tristeza. A depressão é muito mais do que tristeza! Vejamos assim: a tristeza é uma emoção primária e, como emoção, tem a função de sinalizar ao Eu o reflexo da minha experiência interior. Quando não consigo ouvir-me ou quando oiço mas não me respeito na emoção que sinto ou até respeito mas não me dou espaço nem tempo para lhe dar importância e acção, a emoção não cumpre a sua função. No entanto, não se vai embora. Fica ali, no sítio dela, a crescer e a desenvolver-se, a gritar por atenção até que seja ouvida. Aqui, já não é só tristeza. São vários sintomas de mal-estar, de ansiedade e outras emoções à mistura como raiva, angústia ou medo. Falamos, aqui, de tristeza não processada, aquela que não é ouvida e que não permitimos que tenha o seu espaço para existir. Este caminho sim, leva à depressão.

Existe, também, uma visão negativa sobre o Eu, de que “não sou capaz” ou “não mereço coisas boas”, uma visão negativa sobre o mundo, como “ninguém me percebe” ou “ninguém me pode ajudar” e uma visão negativa sobre o futuro, pensando “as coisas nunca vão mudar” ou “amanhã será pior”. Esta espiral promove e reforça a depressão num estado de angústia e desesperança profundas.

Percebendo que algumas depressões são mais facilmente identificadas do que outras – porque surgem de um acontecimento grave, de um luto ou de uma perda, de um trauma, entre outros – outras já não são tão facilmente identificáveis. Mas existem. E quanto menos noção tiver o próprio da sua razão, mais difícil é de aceitar e de processar. Avançar torna-se difícil e penoso. Quem está à sua volta não percebe e identifica como sendo uma desculpa ou até uma “manha”, uma forma de não se fazer algo, mas é muito mais do que isso. Os outros não vivem dentro de nós e só a empatia pode fazer com que percebamos o outro. Todos temos o direito de estar infelizes às vezes, de estarmos tristes por algo. Aceitar isto é um bom princípio para combater a depressão. Quem não se permite a entristecer, deprime-se.

As pessoas com depressão mostram-se felizes, dão conselhos, sorriem e apoiam os outros. Muitas vezes para esconder o que sentem, para não preocupar os seus entes queridos, os seus amigos. Por dentro, angústia e desesperança. O grito silencioso que ensurdece quem o sente e quem o vive. Não de propósito, mas porque não encontra outra solução.

Estar atento a si próprio e aos outros é um imperativo de uma sociedade com esta velocidade. Sermos empáticos, pensarmos no outro e estarmos disponíveis para ajudar, para apoiar, para ouvir. Muitas das vezes pode fazer a diferença. Procurar ajuda de um profissional de saúde, partilhar o fardo da dor e do sofrimento que é tão grande. É urgente apostar na saúde mental, na nossa, dia-a-dia, na da sociedade, através de quem manda e cria leis e na do mundo, todos juntos.


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